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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
O sistema financeiro merece impeachment já!
Por Ceci Juruá | Rio de Janeiro, dezembro de 2015
Em brilhante conferencia[1] apresentada durante o 3º. Encontro Nacional da CNTU[2], em dezembro deste ano, o prof. Ladislau Dowbor defendeu o ponto de vista que os intermediários financeiros são, na atualidade, meros atravessadores. A economia brasileira para, e está parando segundo Dowbor, porque o sistema de intermediação financeira trava os três motores da economia: a produção a cargo dos empresários, a demanda das famílias e os investimentos públicos.
Tais questões ficariam muito claras, explica Dowbor, se dispuséssemos no Brasil de um fluxo financeiro integrado. Como este fluxo não existe, tem sido difícil quantificar os efeitos da ação dos bancos sobre os distintos setores da economia real. Valendo-se de alguns exercícios, a partir das estatísticas disponíveis, Dowbor afirma, por exemplo:
“Abstraindo a divida pública, os bancos se apropriam de uma carga de juros anuais de R$ 880 bilhões, 15,4% do PIB. Uma massa de recursos deste porte transforma a economia (…) esterilizando a dinamização da economia pelo lado da demanda (…) a parte da renda familiar que vai para o pagamento das dívidas passou de 19,3% em 2005 para 46,5% em 2015.”
Além de travar a demanda das famílias, os juros extorsivos cobrados pelos bancos no Brasil impedem que os empresários privados recorram ao crédito. Em média, explica Dowbor, os juros são de 24% para capital de giro, 35% para desconto de duplicatas. Enquanto isto, “na zona euro o custo médio para pessoa jurídica é de 2,20% ao ano.”
Os resultados macroeconômicos fornecidos pelo IBGE[3] confirmam a percepção do ilustre professor da USP[4]. Em média, durante os últimos 20 anos, a repartição da renda interna bruta, gerada no processo econômico, privilegiou o capital, capaz de se apropriar de um percentual que oscila em torno de 40% desta renda. Outro tanto vai para os trabalhadores. O restante entre 15% e 20% fica com o governo, incluídos nesta parcela os benefícios da previdência social pública.
Em grandes linhas, os números da macroeconomia expõem o drama do subdesenvolvimento e da concentração de renda que o caracteriza: 5% da população, empresários e rentistas, absorvem parcela da renda nacional idêntica à que sustenta 95% da população brasileira. Além disso, estes mesmos 5%, privilegiados no processo produtivo, são capazes de um comportamento que pode ser visto como indigno, pois transferem para seus clientes, empregados e fornecedores, impostos diretos que deveriam ser de sua responsabilidade, caso do IPTU e ITR, do IPVA dos veículos luxuosos que os servem em suas empresas e, geralmente, do próprio Imposto de Renda que incide sobre ganhos empresariais. Estes impostos, diretos, deveriam constituir instrumentos de redistribuição de renda à disposição dos governos. Aqui, no entanto, eles se prestam a um novo mecanismo de extorsão, não-legal, da renda das famílias.
Também é de conhecimento público que a classe empresarial brasileira, assumindo postura de cúmplice da financeirização e do rentismo, que privilegiam particularmente bancos e atores financeiros mas também as grandes empresas, ousam uma campanha sórdida contra os trabalhadores, quando afirmam que o orçamento fiscal não suporta a democracia. Querem na verdade reduzir salários e direitos dos trabalhadores, em particular as transferências que o Governo faz para extirpar a fome e a miséria, caso do Bolsa Família. Querem também liquidar a previdência pública e deixá-la a reboque de planos privados que sugam mais dinheiro da renda familiar e o transferem ao sistema bancário.
Lideram por isto uma campanha feroz contra a atual presidente da República e contra os partidos que, com erros e acertos, vem procurando mitigar os efeitos perversos do neoliberalismo aqui reinstalado na década de 1990. Como oligarquia, a ação anti-democrática dos plutocratas dispõe de amplo apoio nas camadas mais bem pagas da burocracia, Judiciário e Legislativo. Apoio amplo, mas não generalizado. Ainda hoje, a maioria de juízes e magistrados, de políticos, prefeitos e governadores, não se curvou às exigências da minoria que gostaria de reintroduzir no Brasil a escravidão e o sistema de agregados da “casa grande”.
Por isto é necessário um golpe, um golpe de Estado que reponha no poder senhores e vassalos da financeirização e do rentismo. Em lugar de apontar a causa real da estagnação da economia brasileira, como o faz brilhantemente o prof. Ladislau Dowbor[5], seus intelectuais orgânicos apontam como inimigos da nação a Constituição Cidadã, os direitos sociais e trabalhistas e os governantes que os respeitam.
Não passarão! Mas é preciso que o povo nas ruas e nas tribunas democráticas imponha agora e já: IMPEACHMENT PARA O SISTEMA FINANCEIRO! DEVOLVAM ÀS FAMÍLIAS DOS TRABALHADORES BRASILEIROS OS RESULTADOS DE UMA PILHAGEM QUE JÁ DURA 25 ANOS!
*** Ceci Juruá é economista, doutora em políticas públicas, membro do Forum 21, do Conselho Consultivo da CNTU e da diretoria do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos/IBEP.
[1] Ladislau Dowbor. Resgatando o potencial financeiro do Brasil. Outubro de 2015.
[2] Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados
[3] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
[5] Seus livros e textos estão todos disponibilizados gratuitamente em seu blog.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Caicoense continua com estoque de cachaça disponível a colecionadores
Foto acervo colecionador/divulgação
O estoque de cachaça adquirido por caicoense continua à disposição de colecionadores do produto. Cachaças mineiras, pernambucanas, paulistas, cearenses, paraibanas, e também da região Seridó, a caicoense Samanaú, encontrada até na China. Tatuzinha, Pitu, Mijo de Moça, Rainha, Seleta, Inconfidência, Cristalina do Picão, Mucuri, Nabundinha, Fogosa, Caninha 77, Colonial, Chora Menina, Malhada Vermelha, são algumas das cachaças, umas mais conhecidas, de renome e gosto nacional, outras como produto de mercado turístico.
Apesar de sua pouca idade, Matheus Gregório (20 anos), tem por hábito colecionar cachaça, apoiado por seu pai Reginaldo Clemente, todas originais que, segundo afirma, desde as mais antigas, classificadas em ordem alfabética enchendo todas as letras do alfabeto. Todo o estoque, perto de 300 garrafas, da chamada “água que passarinho não bebe”, ele dispõe pelo preço de 30 reais cada unidade. Uma oportunidade para quem já tem uma coleção e pretende aumentar o estoque, ou quem pretende iniciar uma nova coleção. O contato, através do telefone (84) 99820-9200.
A cantora Lucy Alves estará no Natal Shopping na próxima terça-feira (29) para uma tarde de autógrafos e o lançamento do CD “Lucy Alves & Clã Brasil no Forró do seu Rosil”, em homenagem ao centenário do grande compositor nordestino Rosil Cavalcanti. Revelação do programa The Voice Brasil, da Rede Globo, a artista paraibana recebe os fãs na Livraria Leitura, das 16h às 18h.
Lucy Alves e sua família, que compõe o Clã Brasil, revivem os maiores sucessos do autor pernambucano, entre elas “Sebastiana”, “Forró na Gafieira” e “Festa de Milho”. O CD ainda apresenta três poesias inéditas, musicadas pelo músico Badu especialmente para a comemoração: "Coco x Baião", "Gibão" e "Tambaú". Rosil Cavalcanti compôs e publicou cerca de 82 músicas - baiões, xotes e côcos, em célebres parcerias com Jackson do Pandeiro, gravadas pelo parceiro ilustre e também por outros grandes artistas como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba Ramalho, Marinês, Ademilde Fonseca, Genival Lacerda, Clã Brasil, entre outros.
A partir do lançamento do CD “Lucy Alves & Clã Brasil no Forró do Seu Rosil”, suas publicações totalizarão 85, com as três inéditas complementadas postumamente. O CD tem direção musical de Lucy Alves, direção executiva de Badu com arranjos dois dois e do maestro Chiquito. Lucy toca acordeon, bandolim e violino. O Clã Brasil é composto por Laryssa - Zabumba e coro; Lizete - Flauta e coro; Fabiane - Cavaquinho, violão de 12 cordas e coro; Morena - Triângulo e coro; Francisco Neto – Pandeiro e percussão; e Badu - Violão de 7 cordas. [por assessoria de imprensa]
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Postado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo no AssessoRN.com em 12/22/2015 02:34:00 PM
domingo, 20 de dezembro de 2015
BRASIL: PÁTRIA DISTRAÍDA?
Geniberto Paiva Campos / Brasília - dezembro,2015
“Todos os dias indivíduos normalmente inteligentes e classes sociais inteiras são feitos de tolos para que a reprodução de privilégios injustos seja eternizada entre nós”. (Jessé Souza, “A tolice da Inteligência Brasileira” – Ed. Leya, 2015)
1. Há alguns anos, em um programa de TV, a atriz Kate Lyra criou um inusitado bordão, rapidamente assimilado e repetido pelos telespectadores: -“brasileiro é tão bonzinho!” No qual ressaltava a bondade e, sobretudo, a ingenuidade inata dos nossos patrícios.
Em livro recentemente publicado, o sociólogo Jessé Souza, atual presidente do IPEA, pesquisando as origens desse “jeitinho brasileiro”, relata, em sequência histórica, a participação de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Roberto da Matta, os quais,agregando ideias de Max Weber, teriam contribuído com respaldo teórico-acadêmico para a confirmação da tese: os brasileiros sãomalemolentes, sensuais, cordiais, decidem com o sentimento (e não com a razão). Portanto, fáceis de serem enganados, levados na conversa. Não gostam do seu país. E nutrem uma admiração profunda, perpétua, em relação Estados Unidos e ao seu povo. Aos quais atribuem qualidades e capacidades sobre-humanas, excepcionais, na esfera moral, pessoal, técnica e acadêmica. Seres muito próximos da perfeição.
Contornando, propositadamente, o núcleo de justificativas “acadêmico/científicas” da tese – muito bem explicitadas no livro do sociólogo Jessé Souza – apresentamos algumas contribuições a esse debate, defendendo a provável ocorrência de um viés “político/operacional” no caso.Produzindo manipulações grosseiras, no intuito de criar na população uma assimilação acrítica. Ingênua e tola, de conceitos políticos e ideológicos do interesse externo, contrários aos interesses do seu país. A nosso ver, um fator muito significativo. Que poderia contribuir para aexplicar a permanência de comportamentos sociais e políticos estranhos da elite e da classe média brasileiras (e da América Latina), habilmente manipuladas pela Publicidade & Propaganda, de origem interna e externa. Todas com o mesmo objetivo: fazer os seus habitantes perderem a esperança no futuro do seu país, reduzindo a próximo de zero o seu orgulho patriótico. Talvez possa ser atribuído um papel significativo a essa lavagem cerebral permanente (e competente) dessas agências de Publicidade & Propaganda na manutenção desse estado de inconsciência coletiva das populações, vítimas, infelizmente, dessas ações deletérias.
2. A partir da segunda metade do século 19, o Capitalismo assumiu características hegemônicas incontestes, enquanto sistema econômico,evoluindo nos anos seguintes para a esfera política, partindo em busca do controle direto e indireto do Estado e apoiando sutilmente governos favoráveis e/ou simpáticos ao sistema. O limiar do novo século mostrou que o Mundo, na defesa dos seus interesses, estaria disposto a se enfrentar em guerras totais. (Como afirmou Clausewitz, um reconhecido estadista da época: “a guerra é a política feita por outros meios”).
Na busca da hegemonia e da sua expansão, países europeus, os Estados Unidos e o Japão, se enfrentaram em duas Guerras Mundiais queeclodiram no século 20. Segundo argutos historiadores (Hobsbawm, E.J - 1977), a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais constituem a mesma guerra. E o que se seguiu, a cinzenta “Guerra Fria” seria apenas um corolário – ou consequência - das duas grandes guerras. Tais conflitos marcaram todo o século passado, e como esperado, mostram seus desdobramentos nos dias atuais.
Desses sérios enfrentamentos, um país, os Estados Unidos da América, saiu praticamente incólume em sua base territorial e em sua economia. O incremento das atividades da indústria bélica americana nos dois conflitos, colocou o país em uma situação de supremacia mundial no pós-guerra, nos planos econômico e político. E tornou-se a única e incontrastável potência nuclear mundial. Diferentemente da Europa, dilacerada, dividida e com a economia em frangalhos.
Após garantir a sua expansão territorial e conquistar áreas preciosas de terras (e do petróleo) do México, os norte-americanos confirmaram a tese do “destino manifesto”, um engenhoso e permanente mecanismo auto atribuído e auto aplicado ao país, o qual passou a justificar a apropriação de territórios e riquezas do interesse geopolítico ou econômico do governo americano.
Durante a Guerra Fria – para muitos estudiosos, ainda em plena vigência, (Moniz Bandeira. L.A, 2013) - Washington assumiu o papel, tambémauto atribuído, de “gendarme da democracia mundial”, com o envolvimento direto e indireto em invasões territoriais, golpes de estado e levantes internos em diversos países. Sempre em nome da defesa da democracia, encobrindo interesses econômicos e geopolíticos ilegítimos e injustificáveis.
(Retomando um oportuno argumento do autor do livro, enfatizamos que não nos move nenhum tipo de sentimento antiamericano ao fazer tais constatações. Estas devem ser tomadas pelo que são: evidências históricas da formação e da evolução de um país, com inegável vocação hegemônica, implantando a ferro e fogo o seu peculiar conceito de “democracia”).
3. Simultaneamente ao desenrolar da II Guerra Mundial, ficou evidente para o governo americano, o imenso potencial da Indústria dePublicidade & Propaganda, uma arma “bélica” às vezes mais poderosa do que os canhões. Com essa arma era possível induzir comportamentos consumistas: Coca-Cola, ao invés de sucos naturais; fazer as mulheres adotarem o cigarro como expressão da sua liberdade. E, por que não? colocar “ideologias” disponíveis nas prateleiras dos supermercados.
A partir desse ponto, foi montada uma máquina de conquista de corações e mentes, de alcance mundial, dispondo de recursos financeiros inesgotáveis, utilizando todos os meios de comunicação possíveis: rádios, tvs, jornais, revistas (incluindo os “comics” ou revistas em quadrinhos). E ainda a superpoderosa indústria do cinema, com o envolvimento dos magnatas da meca cinematográfica de Los Angeles com interesses geopolíticos de Washington, sendo criada o que ficou conhecida como a “Universidade de Hollywood”. Perfeitamente apta a interpretar fatos e criar versões convincentes. Se necessário, reinterpretar a própria História. Ações com a incrível propriedade de iludir mentes ingênuas e suscetíveis, de todos os quadrantes e origens.
Diante de tão formidável e bem articulado poderio no campo de Comunicação, tornou-se difícil, quase impossível, qualquer tipo de discurso contraditório. E foi a partir de tal conteúdo político/ ideológico do pós-guerra, norteador da Guerra Fria, que o Mundo foi submetido a um ataque insidioso da indústria de Publicidade & Propaganda, defendendo e divulgando valores, transcendentes em sua roupagem externa, mas cujo objetivo essencial era o domínio de territórios e países de interesse do novo Império. E claro, defendendo, por todo sempre, o Mercado e a Livre Iniciativa.
São múltiplos, incontáveis, os exemplos da aplicação dessa política neoimperial no Mundo. Nos mais longínquos rincões do Planeta.
Em meados do século 20, o império americano dispunha-se a lutar contra o Comunismo e pela implantação universal do seu conceito deDemocracia. E, no limiar do novo século, após o ataque às Torres Gêmeas, essa pauta foi ampliada para o combate ao “terrorismo islâmico”, ou “Eixo do Mal”, no qual os limites da guerra convencional foram deixados de lado, passando a valer ações “antiterroristas” que desrespeitariam os Direitos Humanos e regras elementares de combate definidos na Convenção de Genebra. Talvez fazendo valer, mais uma vez, os fundamentos do “Destino Manifesto”. O centro de torturas implantado na base de Guantánamo, até hoje em funcionamento, seria o mais perfeito corolário dessa constatação.
4. “Palimpsesto” é um termo pouco usual. De acordo com o dicionário Houaiss significa “o papiro ou o pergaminho cujo texto primitivo foi raspado para dar lugar a um outro”.
A lembrança do termo surge naturalmente, quando decorrido pouco mais de cem anos do início do período das grandes guerras do século 20, a humanidade continua a reescrever essa história. Cujo texto primitivo não esmaece. Por mais que se tente apagá-lo, raspando-o até à medula,seu conteúdo teima em voltar, se fazendo presente nos dias atuais. Os conflitos bélicos registrados no século passado, dividiram (talvez demaneira inconciliável) a Humanidade entre correntes políticas e ideológicas antagônicas.
Para os que imaginavam que a morte sem glória de Adolf Hitler, numa Alemanha que agonizava frente aos invasores russos, significou o fim do Nazismo, a História mostrou que este apenas hibernava. E gradualmente, reassumia o seu lugar no comportamento humano.
Manifestações de abusos, intolerância, desrespeito aos direitos humanos, quebra da ordem jurídica, tortura, atos de violência extrema contra populações indefesas, submissão do setor judiciário ao totalitarismo, ao “clamor das ruas” ou às pressões da mídia, extinção do estado democrático de direito. Enfim, o abandono consentido de práticas civilizatórias, veio a evidenciar que o Nazismo, redivivo, está sim presente nos mais diversos países. E que para assegurar o lucro, mesmo indevido e garantir os interesses ilegítimos de Estados e Nações, estaria permitida a prática de métodos persuasórios ilícitos ou da força militar explícita para a consecução de tais objetivos.
Caberia, portanto, à consciência crítica da Sociedade fazer a denúncia bem fundamentada de tais métodos e manipulações. Como o fez – de maneira serena e corajosa – o sociólogo Jessé Souza em “A Tolice da Inteligência Brasileira”. Demonstrando seu elevado grau de ousadia acadêmica, desde a escolha do título, o autor revisa conceitos estabelecidos por acadêmicos consagrados, ícones inquestionáveis da Sociologia brasileira. Submetendo-os ao escrutínio científico atual. Bem distante de uma iconoclastia oportunista e superficial, procura demonstrar possíveis vieses e equívocos de mestres do conhecimento sociológico. Num país em que estes reinam soberanos. Tranquilos, intocáveis, absolutos no pensamento acadêmico. Que nunca ousou criticá-los.
E o mais importante, denunciando, de maneira firme e inteligente, nos limites da ortodoxia acadêmica, a forma insidiosa de dominação exercida pelos impérios financeiros. Fazendo cidadãos adultos - crédulos e atilados- de países aparentemente livres e soberanos, assimilarem conceitos equivocados e manipuladores, que servem, tão somente, aos interesses escusos desses Impérios.
Este, talvez, o mérito maior do corajoso livro do sociólogo Jessé Souza: mostrar que o Brasil não é uma pátria assim tão distraída.
Viva ! Demorou mas chegou seu dia ! Padre Cícero e Dom Helder, o "Bispo das Multidões", serão elevados aos altares numa mesma solenidade, segundo informações extra muros! Já pensou poeta Cunha Lima, Padim Ciço papa?! Não teria ocorrido a 2a. Guerra Mundial! O mundo seria bem melhor e Ghandi teria visitado Juazeiro para se aconselhar junto ao Padim e Lampião, convertido, seria sacristão da catedral do Crato.
Venerado em romarias que atraem mais de 2 milhões de pessoas por ano a Juazeiro do Norte (CE), o Padre Cícero Romão Batista foi perdoado pela Igreja Católica após mais de um século de punição.
A reconciliação foi anunciada neste domingo (13) pelo dom Fernando Panico, bispo da Diocese de Crato (CE), que recebeu uma carta do Vaticano com a decisão do papa Francisco.
Conhecido popularmente como Padim Ciço, ele foi afastado da Igreja Católica após um episódio em 1889 que ficou conhecido como "milagre da hóstia", no qual uma hóstia dada pelo padre a uma beata teria se transformado em sangue.
"É o primeiro processo de reabilitação, de esquecimento do passado, que conheço na Igreja. É um caso único, estamos fazendo know-how", disse à Folha Armando Lopes, chanceler da Diocese de Crato. Segundo ele, a Diocese não pretende iniciar um pedido de beatificação de Padre Cícero de imediato: "É um processo muito demorado, não é nossa prioridade".
Bispo anuncia perdão do Vaticano a padre Cícero
Nos anos seguintes, o padre foi proibido de confessar, pregar e administrar os sacramentos, além de celebrar missas. Em 1896, O Santo Ofício determinou que ele deixasse a cidade de Juazeiro do Norte, sob pena de ser excomungado.
As punições se seguiram até 1926, quando o padre foi suspenso definitivamente pela Igreja, que lhe retirou as ordens. Ele morreu em 1934.
Carismático, Padre Cícero tinha influência sobre a vida social e política na região de Juazeiro do Norte, onde hoje há uma estátua de 27 metros de altura em sua homenagem.
A reconciliação foi pedida ao Vaticano há nove anos por dom Fernando Panico e é o primeiro passo para a reabilitação de Padre Cícero. Caso seja reabilitado, o padre estará apto a ser beatificado e canonizado.
A carta, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, diz que o Padre Cícero "viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo". A íntegra do documento será divulgada no próximo domingo (20) pela Diocese de Crato.
Em uma rede social na internet, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) afirmou que recebeu "com muita alegria a informação da reconciliação da Igreja Católica com o querido Padre Cícero Romão Batista, nosso Padim"
Teórico camaronês do pós-colonialismo Achille Mbembe é o homenageado deste ano com o Prêmio Irmãos Scholl, na Alemanha, por seu incômodo livro "Crítica da Razão Negra".
Achille Mbembe: "Crítica da Razão Negra"
"As lógicas de distribuição da violência em escala planetária não poupam nenhuma região do mundo, não mais que a vasta operação em curso de depreciação das forças produtivas", constata o filósofo e historiador Achille Mbembe no epílogo de seu livro "Crítica da Razão Negra". Trata-se de um pontapé inicial rumo a uma nova visão de mundo, o que comprova a atualidade da obra do teórico camaronês, sobretudo quando se pensa nas muitas guerras e conflitos ou nos incontáveis jovens desempregados, principalmente na África.
E foi por esse olhar afiado "sobre a sociedade mundial globalizada, que não remove apenas mercadorias e capital, mas também pessoas e força de trabalho", que Achille Mbembe recebeu em Munique, na segunda-feira (30/11), o Prêmio Irmãos Scholl. A premiação acontece anualmente em homenagem a uma obra "que dê provas de independência intelectual, seja capaz de incentivar a liberdade civil, bem como a coragem moral, intelectual e estética".
Rebelião de estudantes na África do Sul: Soweto dos anos 1970
Justiça universal no mundo
A questão simples, porém tocante, abordada por este filósofo político, acaba sendo "a questão do mundo": O que é o mundo? Como são "as relações entre suas diversas partes?". Como viver neste mundo? A quem pertencem os recursos? O que move ou ameaça este mundo? Todas essas são questões mais atuais que nunca. A resposta de Mbembe é a visão de uma comunidade universal: "Só há um mundo e todos temos direito a ele". No entanto, segundo a tese do teórico, antes que possamos criar um lar como seres humanos neste mundo comum, precisamos tratar da história dos traumas e das feridas. "Restituição e reparação estão, portanto, no centro da própria possibilidade de construção de uma consciência comum do mundo, ou seja, do cumprimento de uma justiça universal", escreve o filósofo.
O devir-negro do mundo
É assim, portanto, que este pensador do pós-colonialismo imprime sua explicação de mundo. Mbembe estudou na Sorbonne, em Paris, depois de passar por Berkeley, Yale e outras instituições acadêmicas conceituadas dos EUA. Hoje, leciona na Universidade de Witwatersrand em Johanesburgo, África do Sul. Seu livro "Crítica da Razão Negra", publicado em 2013 originalmente em francês (e traduzido para o português em 2014), embora seja considerado pelo próprio autor como "um ensaio", é um tratado cheio de meandros sobre racismo e capitalismo, cujas teses são construídas acadêmica e também poeticamente.
"Razão negra" – quem por ventura pensar em qualquer tipo de conceito que possa remeter a "black is beautiful", estará totalmente equivocado. O que Mbembe reconhece é um "enegrecimento do mundo" em uma época de "crespúsculo europeu". E o substantivo "negro", para ele, é compreendido como "toda a humanidade subalterna", incluindo as hordas de operários mal remunerados da indústria chinesa, bem como os milhões de refugiados, que perderam tudo, ou os migrantes europeus em busca de emprego, submetidos a condições precárias de trabalho. Mbembe analisa o desenvolvimento desta "cisão" e "codificação da vida social em normas, categorias e números". Para isso, ele volta mais de 500 anos na história. No centro de seu tratado recheado de teses, está o conceito do nègre – palavra usada em determinados idiomas hoje somente entre aspas, conotada negativamente e associada ao conceito de racismo.
Escravos na plantação de cana de açúcar em Cuba: pintura de Patricio de Landaluze (1874)
Os Condenados da Terra
Segundo Mbembe, o "Negro" é uma construção material e fantástica, que passou por três fases. A primeira delas, que foi do século 15 ao 19, se deu com a espoliação organizada através do tráfico transatlântico de escravos. Na segunda fase, os "seres cujos direitos foram usurpados" lutaram, a partir do fim do século 18 até o fim do apartheid há aproximadamente 20 anos, pela libertação e emancipação como "sujeitos completos do mundo vivo". A terceira fase é esta na qual vivemos, a "da globalização dos mercados, da privatização do mundo sob a égide do neoliberalismo" – uma fase que começou no início do século 21 e que "é dominada pelas indústrias do silício e pelas tecnologias digitais".
Em mais de 300 páginas, Mbembe comprova que, sem o "Negro", o capitalismo não teria podido se desenvolver desta forma como se desenvolveu e ainda se desenvolve, transformando continuamente as pessoas em mercadorias. Para isso, o teórico faz uso de citações que vão do viajante Alexis de Toqueville a Frantz Fanon, o mentor francês do pensamento descolonizador. "Poder predador, poder autoritário e poder polarizador, o capitalismo precisou sempre de subsídios raciais para explorar os recursos do planeta. Assim o foi e assim o é, ontem e hoje, ainda que atualmente ele esteja colonizando o seu próprio centro e que as perspectivas de um devir-negro do mundo nunca tenham sido tão evidentes".
Um livro para a sociedade mundial globalizada
Immanuel Kant estabeleceu em 1781, com sua obra principal de teoria do reconhecimento intitulada "Crítica da Razão Pura", os conceitos decisivos para o Iluminismo. A partir desta herança, Achilles Mbembe criou, com seu trabalho sobre o afropolitanismo, nada menos que os princípios teóricos de um "projeto de um mundo por vir", um mundo "liberto do peso da raça e dos ressentimentos".
O Prêmio Irmãos Scholl é concedido pela Federação Estadual da Baviera da Associação do Comércio Livreiro Alemão, junto com a prefeitura de Munique, dentro do Festival de Literatura que acontece na cidade. A premiação, no valor de 10 mil euros, leva o nome de Hans e Sophie Scholl, dois combatentes da resistência, mortos pelos nazistas. Em 2014, o prêmio foi entregue a Glenn Greenwald, parceiro de Snowden, por seu livro No Place To Hide, lançado no Brasil sob o título Sem lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano.
Data 02.12.2015
Autoria Sabine Peschel (sv)
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Novos relatos da Intentona de 1935
Publicação: 2015-12-04 00:00:00 | Comentários: 0Fonte: Tribuna do Norte/RN
A programação que lembra os 80 anos do levante armado de 1935 contra o governo, em Natal, tem mais um evento neste sábado (05). O Sebo Vermelho vai lançar “O Comunismo e as Lutas Políticas do RN na Década de 30”, livro que reúne a série de reportagens do jornalista Luiz Gonzaga Cortez sobre os antecedentes, as ações e os personagens da Intentona Comunista.
DivulgaçãoMovimentos políticos da primeira metade do século XX são abordados em novo livro de Luiz Gonzaga Cortez
A publicação original das reportagens foi no “O Poti”, a edição dominical do jornal Diário de Natal. Os jornais deixaram de circular há alguns anos e a homenagem de Luiz Gonzaga, no livro, é para “os companheiros e editores da redação”. Na época, algumas das informações levantadas nas pesquisas para as reportagens, causaram certa polêmica. Uma delas, foi a afirmação de que o soldado da PM Luiz Gonzaga, cultuado como herói da resistência aos revoltosos, nunca foi militar. A revelação consta da entrevista feita pelo jornalista com o aposentado Sizenando Filgueira, que era do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e um dos líderes da rebelião.
“Ele não era herói nem militar na época. Ele apenas era um débil mental, menor de idade, e deram-lhe um fuzil para acompanhar os que fugiam do quartel em procura da Base Naval”, afirma Sizenando (pag. 91), para em seguida descrever como matou Gonzaga: “(...) olhava para a direita e vi quando ele estava procurando fazer pontaria para atirar. Antes que ele atirasse, eu atirei. Só dei um tiro e ele caiu”. Sizenando conta em detalhes como foi o ataque ao antigo “Quartel do Batalhão de Segurança” (a antiga Casa do Estudante, no Passo da Pátria), com nomes de outras testemunhas para a morte. Documentos oficiais da época também apontam para a versão contada por Sizenando.
O domínio dos revoltosos sobre Natal durou três dias – de 23 a 25 de novembro de 1935 – e a insurreição, que era mais contra o Estado Novo de Getúlio Vargas que uma tentativa de implantar um estado proletário, também ocorreu em Recife e Rio de Janeiro. Derrotados, os líderes foram presos – aqui, no interior do Estado – e a repressão política/policial que se instaurou atingiu a todos os opositores do governador Rafael Fernandes.
Polêmicas à parte, a pesquisa jornalística feita por Luiz Gonzaga Cortez para as reportagens se constitui em um material de estudo valioso para entender a história política do século XX no Rio Grande do Norte. Algumas das lideranças tidas como referenciais, ainda hoje, se formaram e atuaram naqueles episódios revoltosos e nem sempre claros das alianças, conspirações e interesses da década de 1930. Com essas reportagens, Luiz Gonzaga chegou a ganhar três prêmios “Elias Souto” (FJA – 1984/1986 e 1992) e um outro da Fenaj.
O lançamento, com a presença do autor, será a partir das 9h e deverá se estender até o meio dia. O Sebo Vermelho fica na avenida Rio Branco (Cidade Alta), quase esquina com a rua Coronel Cascudo. O preço do exemplar será de R$ 30,00.
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte | Assessoria de Imprensa
Consumo consciente e política de resíduos sólidos será debatido na Assembleia
Crédito da foto: João Gilberto
O consumo consciente e as políticas públicas dos resíduos sólidos será tema de audiência pública na Assembleia Legislativa, nesta sexta-feira (27). O debate, proposto pelo deputado Souza Neto (PHS), acontece a partir das 14h e irá reunir representantes de instituições municipais e estaduais de meio ambiente do Rio Grande do Norte.
“Precisamos discutir ações para orientar a atuação do Governo do Estado nessa área, assim como da elaboração de um Plano de Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), ou seja, um documento que reúna políticas, programas e ações que promovam a produção e o consumo sustentáveis em nosso Estado”, afirma Souza.
Durante a audiência será discutida a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos, além da destinação ambientalmente adequada de rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
O evento conta com a parceria da Comissão Permanente de Gestão Ambiental do Tribunal de Justiça do RN (TJRN). Além dos parlamentares da Casa, foram convidados representantes do IDEMA, IBAMA, Ministério Público de Meio Ambiente, Secretaria Municipal e Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Defensoria Pública, Procuradoria Municipal de Meio Ambiente e Procuradoria Estadual de Meio Ambiente.
O município de Bananeiras está com sérios problemas por causa da escassez de água, falta de higiene pública,a fedentina no centro da cidade é antiga e espanta turistas (ainda promovem certames de comidas típicas ao lado do canal por escorrem os dejetos humanos, animais e águas "servidas"), sem citar os trechos de águas paradas em Cidade Alta e canais pluviais descobertos na ladeira que liga a cidade alta à cidade baixa. A coleta de lixo ainda funciona a contento, sem maiores reclamações. Porque não se faz a limpeza do canal do esgoto eterno ou se cobre com uma placa de concreto, no trecho da praça do Centro até o fim do perímetro urbano? A área é considerada especial para os eventos do meio do ano e do Natal e local para apresentações de cantores e teatrinhos para o público infantil. Mas com esse "perfume francês" não há quem aguente tamanha falta de consideração com o cidadão ou com os turistas que nos visitam. Não precisa de muito dinheiro, basta mandar um engenheiro novato para elaborar o projeto de construção de uma cobertura do Canal da MERDA. Dinheiro a Prefeitura tem. Não tem dinheiro para festa com cantores importados e caros?
O próximo será de estiagem braba, a pior dos últimos anos, Os loteamentos residenciais sofrerão as consequências da escassez do precioso líquido, mormente os maiores, como o Àguas da Serra Haras e Golfe, uma valiosa àrea da antiga Fazenda Bebedouro, com 600 lotes, mas já sofrendo racionamento com menos de 80 residências construídas. Os três "açudecos" estão com níveis baixos, sendo que o primeiro, o que recebia água da fonte natural da Serra, está com pouca e se prevê que secará nos próximos 90 dias, caso não caia uma chuva torrencial. Por isso, a produção de cana-de-açúcar foi pequena este ano. Pensemos no futuro. Por exemplo. o Àguas da Serra, o mais bonito condomínio de Bananeiras, quando chegar a 500 casas. De onde virá a água para os moradores? De poços tubulares? Uma adutora do açude Jandaia para o condomínio? Delírio? Então, se reúnam os especialistas em recursos hídricos para discutirem as soluções para todo o município, haja vistas as previsões negativas dos meteorologistas do Nordeste. Foto 1 - Açudeco do condomínio A. da Serra.
Fotos: acervo do blogue. Perto do campus da UFPB se pesca no canal dos dejetos. Que higiene....
O Prefeito de Bananeiras, Douglas Lucena, divulgou neste domingo, 22 de novembro, nota em que esclarece fatos que foram divulgados em matéria publicada em vários sites e blogs do Estado.
NOTA OFICIAL
“Emito Nota Oficial esclarecendo os fatos que foram motivo de matéria equivocada, republicada em vários veículos de comunicação eletrônica e redes sociais, com o intuito natural de restabelecer a verdade.
Sobre a Missão Técnica Internacional do Sebrae em função do Prêmio Prefeito Empreendedor
Mais de um ano atrás o SEBRAE Nacional realizou Missão Técnica Internacional com os prefeitos empreendedores do país, apenas 12 municípios foram representados, justamente os que se destacaram nacionalmente.
O SEBRAE, uma das mais prestigiadas instituições do país, custeou passagens e hospedagem para os prefeitos vencedores do Prêmio Prefeito Empreendedor Nacional, cabendo aos gestores o custeio de alimentação e deslocamento. Foram três os países visitados, Emirados Árabes Unidos, Austrália e Nova Zelândia, todos com moedas bem mais fortes do que a nacional, dólar australiano e dólar neozelândes ou com base no dólar americano, caso dos Emirados Árabes Unidos.
Não discorrerei mais demoradamente sobre a legalidade da despesa mencionada, mas creio que ser escolhido Prefeito Empreendedor Nacional pelo SEBRAE seria motivo de orgulho para qualquer gestor de nosso país, afinal, concorremos com quase 1.400 prefeitos do Brasil.
Convém destacar ainda que apenas dois gestores públicos municipais paraibanos em toda a história foram agraciados com essa honraria, denotando nosso compromisso e capacidade de articulação, além de revelar uma administração moderna e que estimula fortemente o empreendedorismo como forma de desenvolver nosso município e gerar oportunidades para os filhos de nossa terra.
Essa Missão Técnica do Sebrae foi o desdobramento previsto no Edital do Prêmio Prefeito Empreendedor, uma missão de trabalho e uma das maiores oportunidades recentes de interação e intercâmbio de experiências exitosas, tanto nos países visitados quanto com os demais gestores reconhecidos nacionalmente. Naquela oportunidade, humildemente, representei não somente Bananeiras e a Paraíba, como era um dos doze representantes do Brasil.
Fui reconhecido pelo Sebrae Paraíba, sendo premiado em duas categorias, incluída a de melhor projeto. Reconhecido igualmente pelo Sebrae Nacional, vencendo como o Melhor Projeto do Nordeste.
Lamento apenas que, ao invés das boas práticas que nos levaram a esse reconhecimento serem elevadas, o que se divulgue é um conjunto de inverdades para atender às questiúnculas político-partidárias ou ao simples desejo de denegrir nossa gestão.
Rebato ainda com veemência a afirmação que menti, afinal, os dados colhidos no Sagres do Tribunal de Contas do Estado e no Portal da Transparência do Município são alimentados pela própria prefeitura, ou seja, nós mesmos prestamos essa informação. Nos causa somente estranheza que em função dos últimos acontecimentos políticos locais ou com a aproximação do ano eleitoral essa informação distorcida seja propagada após um ano da Missão Técnica Internacional.
Lamentável é ser agredido por ter sido premiado e reconhecido, é ser acusado por trabalhar e se destacar, uma inversão completa de valores. No entanto, a Paraíba e Bananeiras estão acima disso, porque nos embates recentes da vida pública o povo tem reconhecido tão somente os que trabalham.
Sobre Bananeiras liderar as despesas com diárias
Quanto à afirmação errônea sobre Bananeiras liderar as despesas com diárias na Paraíba, elenco as despesas efetuadas nos anos de 2013, 2014 e 2015, muito inferiores aos Municípios que lideram esse ranking no Estado, observando-se ainda um decréscimo ano a ano, senão vejamos: 2013- R$ 67.660,65 (sessenta e sete mil, seiscentos e sessenta reais e sessenta e cinco centavos) de gasto total anual com diárias e R$ 11.894,25 (onze mil, oitocentos e noventa e quatro reais e vinte e cinco centavos) de gasto específico anual com diárias do gabinete do prefeito municipal.
2014- R$ 61.172,06 (sessenta e um mil, cento e setenta e dois reais e seis centavos) de gasto total anual com diárias e R$ 24.492,35 (vinte e quatro mil, quatrocentos e noventa e dois reais e trinta e cinco centavos) de gasto específico anual com diárias do gabinete do prefeito municipal.
2015-(até 31.10) R$ 39.859,60 (trinta e nove mil, oitocentos e cinquenta reais e sessenta centavos) de gasto total anual com diárias e R$ 8.160,00 (oito mil cento e sessenta reais) de gasto específico anual com diárias do gabinete do prefeito municipal.
Nota-se com clareza que estamos em nível muito inferior aos que lideram esse quesito no Estado da Paraíba, no ano de 2013 dispendemos cerca de metade do que gastou o quinto colocado no quesito no Estado, cerca de 70 % do que gastou o décimo colocado. No ano de 2014 em Bananeiras, mesmo com a Missão Técnica Internacional, reduzimos o gasto total com diárias em mais de seis mil reais e em 2015, estimamos que não ficaremos entre os 40 municípios que mais efetuaram pagamentos dessa natureza, reduzindo-se mais de vinte mil reais em relação a 2013.
Ressalte-se que nosso município está entre os 30 de maior população no Estado e que as diárias são efetivamente pagas não somente ao Prefeito Municipal, mas a servidores de diversas categorias, como motoristas, professores, entre outros, além de diretores, secretários e membros da gestão como um todo.
Sobre as denúncias relativas à Unidade Básica de Saúde do Jaracatiá
A matéria ainda faz referência à construção da Unidade Básica de Saúde do Jaracatiá, situada na zona rural de nosso município.
Essa edificação foi iniciada em dezembro de 2010, depois de dois anos e onze meses, precisamente em novembro de 2013, efetuamos o distrato com a construtora responsável pela obra, justamente por não cumprir os prazos estabelecidos no certame licitatório.
Efetuado o distrato, afastada, portanto, a empresa, a gestão teve que se submeter novamente à avaliação da Gerência de Governo da Caixa Econômica Federal-GIGOV, encaminhando novas planilhas para avaliação da engenharia, bem como o processo de distrato para validação e que redundaria em autorização para nova licitação. Ultrapassados todos os trâmites burocráticos, quase que infindáveis, obtivemos a liberação da GIGOV no ano de 2015, realizamos o novo certame licitatório, novo vencedor foi habilitado, a Ordem de Serviço foi dada e a empresa ainda está no prazo legal para iniciar os serviços até esta semana que se inicia, que estão vinculados também à conclusão de outra Unidade Básica de Saúde, essa instalada no Distrito do Tabuleiro.
Ademais, os habitantes daquela região não estão prejudicados no atendimento de saúde, pois enquanto a obra não foi concluída, a Unidade Básica de Saúde está lotada em prédio locado na comunidade especificamente para esse fim, com a equipe de Saúde da Família funcionando normalmente com seus membros regulares, médico, enfermeiro, técnicos e auxiliares.
Finalizo, reafirmando meu propósito de dialogar, sempre, e me colocando à disposição perenemente para qualquer esclarecimento. Estou completando 11 anos exercendo mandatos eletivos, sempre pautados pela ética, transparência e na busca constante de soluções para o generoso povo de minha Bananeiras, no atual mandato como gestor municipal, consegui atrair em investimentos públicos mais de R$ 31 milhões de reais para o município, quase o equivalente a um ano de orçamento, faço assim, um convite a todos que queiram entabular um debate sério sobre essas ações e para conhecer as inovações implementadas.
Aos ataques e agressões sem fundamento, responderei sempre com mais esforço e dedicação às causas bananeirenses, mantendo os olhos no céu e os pés no chão, seguirei sonhando e realizando, caminhando e trabalhando muito, sobretudo para os que mais precisam.
Fraterno abraço a todos!”
(Prefeito Douglas Lucena Moura de Medeiros – Prefeito de Bananeiras).
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
'O que arrebentou a economia foi o real forte', diz ex-ministro
Em tempos de polarização da política e do debate econômico, o professor da Fundação Getúlio Vargas Luiz Carlos Bresser-Pereira se recusa a se enquadrar em categorias preconcebidas.
Amigo pessoal e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso (FHC), ele apoiou Dilma Rousseff nas últimas eleições.
É um orgulhoso desenvolvimentista (linha que defende ação ativa do Estado na promoção do desenvolvimento econômico), mas também um defensor do ajuste fiscal que está cortando o orçamento da saúde e educação.
Seu apoio ao governo também não o dissuade de classificar a gestão Dilma como "desastrosa" em muitos aspectos.
Nem de acusar Luiz Inácio Lula da Silva de promover um "populismo cambial" ao manter o dólar a R$ 2 para garantir a eleição de sua sucessora e apaziguar a classe média, que hoje, segundo ele, teria desenvolvido um ódio "profundo" e "irracional" ao PT.
"O dólar a R$ 2 foi o pior legado de Lula, a bomba que ele deixou para Dilma", afirma. "Fala-se no superávit primário, mas até 2012 não tivemos problema nessa área (...) O que arrebentou a economia foi o câmbio, que provocou uma desindustrialização."
Aos 81 anos, Bresser já esteve no PMDB e foi um dos fundadores do PSDB. Foi ministro da Fazenda do governo José Sarney (quando um plano com seu nome falhou no controle da inflação), ministro da Reforma do Estado no primeiro mandato de FHC e de Ciência e Tecnologia no segundo.
Ele falou com a BBC Brasil em seu escritório, em São Paulo, dias antes de receber o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano da União Brasileira de Escritores.
BBC Brasil - Muitos de seus colegas desenvolvimentistas estão criticando o ajuste fiscal. Como vê essas críticas?
Luiz Carlos Bresser-Pereira - São críticas dos desenvolvimentistas populistas ou keynesianos vulgares. Acredito que o Estado deve ter uma intervenção moderada na economia e uma política macroeconômica ativa.
O mercado é uma maravilha para coordenar setores competitivos, mas os baseados em monopólios ou quase monopólios, como o de infraestrutura, precisam de uma intervenção forte e planejada. Mas não há nenhuma razão para eu defender a irresponsabilidade fiscal, que o governo possa gastar dinheiro sempre que quiser. John Maynard Keynes (economista britânico) deve estar rolando na cova de irritação diante dessa irresponsabilidade que a gente vê em nome dele.
BBC Brasil - O governo está cortando onde deveria?
Bresser - Nenhum ajuste corta no lugar certo. Estamos reduzindo o investimento (público), que já estava baixo. O governo está cortando onde pode, no fundo é isso. Defendo o retorno da CPMF: é um imposto pequeno, necessário.
Mas o ajuste é o que tem de ser feito. Por outro lado, não sou a favor desse aperto monetário. Sei que a inflação está alta, mas com essa recessão não precisamos de juros mais altos para segurar os preços – o que, além de ser um empecilho para a retomada dos investimentos, têm um custo financeiro enorme.
O Banco Central está ‘descontando’, como dizem as crianças. Em 2011 fizeram uma redução grande na taxa de juros que não deu certo. A inflação subiu, a Dilma teve que voltar atrás e eles ficaram com a imagem prejudicada junto ao sistema financeiro. Agora, disseram à sociedade brasileira: ‘vocês vão ver’. E estamos vendo.
BBC Brasil - No seu livro A Construção Política do Brasil (Editora 34), o sr. fala das coalizões de classes que se formaram no país. A Lava Jato colocou em evidencia um problema estrutural da relação do Estado com o grande empresariado ou o que revelou foi uma exceção?
Bresser - Não vejo nada de estrutural nisso. É natural que existam estatais e um Estado que faz compras e, nesse quadro, infelizmente, sabemos que a corrupção é grande. Nesse caso, ainda temos um fato adicional: o partido de esquerda no poder fez uma coisa que normalmente os partidos não fazem. Só posso entender isso como uma loucura stalinista que atingiu uma minoria do PT, mas o fato é que algumas pessoas com posição de líderes, especialmente o José Dirceu, inventaram essa história de que era legítimo no capitalismo você financiar um partido com dinheiro de corrupção.
Quando você financia uma campanha específica é diferente. É menor. A coisa ficou muito grande e foi um desastre. E está desmoralizando um partido que tem pessoas admiráveis e que dedicaram sua vida para fazer um Brasil melhor.
Mas uma coisa boa dessa crise é que ela não foi denunciada por políticos, nem pela imprensa, e sim pelo próprio Estado. O Ministério Público já tem liberdade há muito tempo. E a partir de 2004, houve uma série de mudanças que deram à polícia mais autonomia e melhores salários. Hoje, temos órgãos do Estado capazes de defender o Estado. O que mostra que nossa política vai mal, mas o Estado não vai tão mal assim.
BBC Brasil - Mas se há uma ideologia de que um Estado forte deve defender o interesse dos grandes empresários, não se cria muitas oportunidades para associações espúrias?
Bresser - Essa é a tese liberal: o Estado tem de ser pequeno para evitar a corrupção. Mas sabemos que a corrupção dentro das empresas também é grande.
Não sou a favor de um Estado imenso. A grande maioria dos investimentos tem de ser feita pelo setor privado. Agora, o Estado tem um papel social fundamental - e para isso precisa de recursos. Estão querendo até acabar com o SUS (Sistema Único de Saúde), imagine.
O sistema de saúde pública é uma grande conquista da democracia e do capitalismo. O consumo coletivo (de serviços de saúde) não é só mais justo, é mais barato e eficiente. Na Europa, o total gasto com saúde é de 11% do PIB, por exemplo. Nos EUA, onde o serviço é baseado no setor privado, é 17%.
BBC Brasil - O sr. apoiou a Dilma na campanha. Ela prometeu uma política econômica e ao ser eleita aderiu a outra, fazendo cortes até em áreas como educação e saúde. Houve estelionato eleitoral?
Bresser - De nenhuma maneira. A Dilma cometeu erros graves como a irresponsabilidade fiscal, que atribuo ao desespero. Não conseguia fazer o país crescer e, de repente, acreditou na bobagem de fazer uma política industrial agressiva.
Mas, em outubro de 2014, quem estava prevendo que o Brasil entraria em uma gravíssima recessão econômica, com queda de 3% do PIB? Ninguém. Não sabíamos. A economia é uma cienciazinha muito modesta, só é perfeita na cabeça dos economistas ortodoxos. Só se começou a falar em crise em dezembro.
As pessoas dizem que ela (Dilma) passou a fazer o que “a direita quer”, mas a mudança de política mostra algo admirável: ela reconheceu o erro. O que ela é, de fato, é incrivelmente incompetente do ponto de vista político. Em dezembro ela já devia estar sabendo que a situação das contas estava ruim e precisava reajustar o que havia desajustado.
Bresser - Essa crise está ligada a uma grande insatisfação da classe média tradicional, que nos anos 80 liderou a transição democrática. Tivemos 35 anos de baixo crescimento e (mais recentemente) uma clara preferência pelos pobres. O PT não traiu os pobres, foi coerente nesse ponto, embora também tenha deixado os ricos ganharem muito dinheiro. Então os ricos e os pobres ganharam e a classe media ficou de fora.
Quando o PT começou a se perder, primeiro com o mensalão e depois com o problema da expansão fiscal, começaram as manifestações. Essa classe (média) desenvolveu um ódio profundo ao PT e o governo. Uma coisa irracional, perigosa e antidemocrática.
A democracia é uma forma de governo de pessoas que lutam entre si, mas é uma luta de adversários. De repente nos vimos em uma luta de inimigos. Ainda é um setor minoritário, mas há um setor da sociedade brasileira que radicalizou para a direita e passou a adotar posições pior que udenistas, fascistas.
BBC Brasil - O sr. já tinha defendido essa tese do ódio das elites ao PT. Mas a Dilma tem uma aprovação em torno de 10%. Não é exagero falar que a rejeição vem só da elite e classe média? 90% da população é elite?
Bresser - A Dilma de fato perdeu popularidade em todos os setores. Quando ela percebeu que tinha errado tinha de falar para a imprensa: “Olha, fiz uma reavaliação, algumas coisas não deram certo e vou ter de mudar a política. Peço desculpas por não ter previsto isso antes.”
Em vez disso, depois que ela foi eleita, desapareceu, e só apareceu de novo ao lado do (ministro da Fazenda Joaquim) Levy, já com a política definida e sem explicações. Só reconheceu que errou há um mês. Como disse, ela é muito inábil politicamente. Isso dificulta a sua vida. E a nossa.
BBC Brasil - Como o sr vê o debate sobre o impeachment?
Bresser - Acho que é resultado desse ódio (da classe média ao PT) e do oportunismo de alguns deputados, que se sentem ameaçados por essas investigações (de corrupção). Resolveram contra-atacar.
E o contra-ataque se faz à presidente, porque ela não barrou a Polícia Federal e o Ministério Público (nas investigações). Mas o debate amorteceu. O grande problema do país hoje é se a Dilma consegue levar o ajuste fiscal adiante.
BBC Brasil - Quais seriam as consequências econômicas de um impeachment?
Bresser - Seria um caos danado. Até eu iria para a rua. Nunca vou para a rua, sou um intelectual, mas se houvesse um impeachment com as razões que eles tem aí, pedaladas, TCU, eu iria. Agora, se descobrirem algum crime que a Dilma praticou é outra coisa. Como no caso do Collor.
Acho que as elites brasileiras, e as empresariais principalmente, perceberam que isso (impeachment) não adiantaria nada. Poderia até piorar a crise. Então de um ponto de vista conservador, eles são contra.
BBC Brasil: É uma crise de um modelo de desenvolvimento?
Bresser - A crise é por falta de modelo. Não temos modelo desde os anos 80. Estamos semiestagnados e sem saber o que fazer.
BBC Brasil - Houve um momento em que muitos intelectuais acreditaram que o Brasil estaria criando um novo modelo. A Economist chamou de Capitalismo de Estado, alguns acadêmicos, de um desenvolvimentismo repaginado.
Bresser - De fato houve quem visse um novo modelo e quem tenha se entusiasmado. A própria Economist colocou o Cristo Redentor decolando na sua capa. Foi um grande equívoco. O que houve no Brasil entre 2005 e 2010 foi um boom de commodities, que fez as exportações triplicarem. Isso enganou os economistas da esquerda e da direita.
BBC Brasil - É possível ter um governo um governo de esquerda e um Estado forte com equilíbrio fiscal?
Bresser - Um ajuste fiscal é necessário para por as finanças do Estado em boa forma, uma condição para um Estado forte, capaz. Para que (esse Estado) não quebre, nem dependa de credores. O mesmo vale para o Estado-nação, que inclui o setor privado: você fica devendo para outros países quando tem deficits em conta corrente (que inclui importações e exportações e transferências unilaterais). Em 2014, esse deficit foi de 4,6% do PIB. Uma loucura.
Esse problema começou há algum tempo. Eu participei do governo Fernando Henrique, que é meu amigo, mas descobri que discordava fortemente da parte econômica dele. Foi no governo Itamar (Franco) - sem duvida, com a liderança de Fernando Henrique - que o Brasil estabilizou seus preços. Mas os oito anos do governo FHC foram muito ruins, o crescimento foi baixo. Ele começou dizendo que o Brasil cresceria com poupança externa, ou seja, com deficit em conta corrente financiado com empréstimos (lá fora) ou (atração de investimentos de) multinacionais. Naquela época não havia arcabouço teórico para criticar isso. Fiquei assistindo. Depois passei a fazer a crítica a esse esquema.
BBC Brasil - Como?
Bresser - A questão é que quando o dinheiro entra no Brasil, o câmbio aprecia (o real fica mais forte em relação ao dólar). Mas os investimentos caem, porque sem um câmbio competitivo os empresários não têm acesso a demanda efetiva (os consumidores preferem importados). Portanto, a taxa de investimento depende do câmbio. Mas dizer isso é uma revolução.
Nos países em desenvolvimento há uma tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio que leva o país de crise em crise. Na crise, a taxa cai, depois começa a subir de novo. Até que um dia a dívida começa a aumentar, os credores se preocupam, há um efeito manada e o país quebra. É o ciclo.
BBC Brasil - Ou seja, o sr. está dizendo que se um jantar em São Paulo está mais caro que um em Nova York algo vai mal, uma crise se avizinha?
Bresser - É isso.
BBC Brasil - Que patamar do dólar é ideal para o crescimento?
Bresser - Hoje deve estar perto de R$ 3,8. Já foi R$ 3,6, mas teve a inflação. Mas agora está no lugar certo porque houve uma crise. Não uma crise total, mas uma semicrise. Em 2002, a taxa a preços de hoje foi a R$ 7. Agora foi a R$ 4 - e já está caindo.
BBC Brasil - O sr. é bastante crítico do governo FHC nessa questão. E o governo Lula?
Bresser - Foi um desastre do ponto de vista cambial. Lula recebeu o governo com uma taxa de cambio que seria hoje equivalente a R$ 7 por dólar. E entregou para a Dilma a uma taxa de R$ 2, R$ 2,10. Com isso segurou a inflação, aumentou os salários dos trabalhadores e elegeu sua sucessora. Agora, para Dilma receber essa taxa de R$ 2 foi receber uma missão impossível. Como a Dilma não é o Tom Cruise - é uma mulher corajosa, meio turrona, nem sempre muito brilhante -, fez o que pode. Não conseguiu o desenvolvimento econômico nos primeiros dois anos de seu primeiro mandato e depois foi irresponsável fiscalmente. E aí foi um desastre.
O dólar a R$ 2 foi o pior legado de Lula, a bomba que ele deixou para Dilma. Fala-se no superavit primário (economia que o governo deve fazer para pagar juros da dívida), mas até 2012 não tivemos problema (nessa área). A própria Dilma só se perdeu nos dois últimos anos, quando inventou as desonerações e outras coisas do tipo. A história que contam do déficit estrutural, isso e aquilo, não existia há três anos. O que arrebentou a economia foi o câmbio, que provocou uma desindustrialização.
O Brasil por muito tempo teve um projeto nacional que se resumia nessa palavra: industrialização. Chegamos a ter 28% de participação da indústria no PIB. Hoje é 10%. Foi uma queda brutal e prematura. De duas, uma: ou nossos empresários são todos incompetentes, ou a taxa de câmbio inviabilizou seu negócio.
Brasil - A quem interessa uma taxa sobrevalorizada?
Bresser - Aos rentistas, aos interesses estrangeiros.
Isso é o populismo cambial. Temos o populismo o fiscal, que é o Estado gastar mais que arrecada, e esse cambial. Quem percebeu esse processo primeiro foi o economista argentino Adolfo Canitrot, nos anos 70.
Quando você aprecia o câmbio, todos os rendimentos, salários, lucros e dividendos, aluguéis, tudo vale mais em dólar. Como muitas mercadorias em uma economia aberta têm seu preço impactado pelos preços internacionais, você fica mais "rico". Os eleitores ficam felicíssimos. E é mais fácil para um político a se reeleger. O Fernando Henrique fez isso – e o Lula fez mais.
Mas logo há uma desvalorização (do real), o salário cai de qualquer maneira. Tudo fica mais caro. A classe media perdeu muito com a queda do real. Continua viajando para Miami, mas menos. A quantidade de brasileiros que comprou casas lá... uma tristeza.
A perda da ideia de nação mais essa preferência pelo consumo imediato são dois males da sociedade brasileira que precisam ser repensados. O Brasil só voltará a crescer se fizer essa crítica da taxa de cambio apreciada.
BBC Brasil - Em 2008 o senhor previu o fim da onda neoliberal, mas países que apostaram no desenvolvimentismo enfrentam problemas. Brasil, Venezuela, Argentina… Fala-se em refluxo da esquerda na região.
Bresser - Tivemos uma crise do capitalismo americano em 2008 que expandiu para o europeu. Foi uma crise do liberalismo econômico, porque foi a aplicação de suas teorias que deu nesse desastre com o qual o mundo sofre até hoje. O neoliberalismo continua em baixa, mas isso não significa que caminhamos para um desenvolvimentismo progressista.
Agora, sobre a América Latina, a Venezuela teve um presidente corajoso, com vontade de salvar o país e beneficiado pela alta do petróleo, mas que adotou um populismo violento que está liquidando com a economia local. Antes disso, os liberais sempre governaram a Venezuela e foi um fracasso atrás do outro. Apenas as elites ganhavam. O (ex-presidente Hugo) Chávez pelo menos melhorou o padrão de vida da população. Mas o mal do populismo é muito forte. Ele tinge tanto a esquerda quanto a direita - mas mais a esquerda e os desenvolvimentistas que os liberais.