De
mesa de bar e de economia
Tomislav R. Femenick – Contador,
economista e historiador, com extensão em sociologia.
Não sei bem, acho que foi no antigo restaurante Umuarama, lá em
Mossoró. O que está registrado na minha memória são só alguns lampejos e o que
ainda lembro é que tudo se passou em uma mesa de bar. Seria um sábado ou
domingo de manhã. Lá estavam três médicos: César de Alencar, Vicente Moraes e
Alcimar Torquato. Eu estava chegando e me dirigia a outra mesa onde estavam
Jaime Hipólito e Helder Eronildes. Todos já tinham tomado a “entradeira” de
cerveja. Só eu estava atrasado para esse doce mister. Ao mesmo tempo em que as
pessoas de cada mesa conversavam entre si, paralelamente ocorria uma conversa
entre os grupos das duas mesas. Todos estavam apenas “jogando conversa fora”.
Aí o Dr. Alcimar me viu chegando e jogou a pergunta para o meu lado: “O que é
que dá valor às coisas? O que é que faz uma cerveja valer tanto, um whisky
quanto e uma operação outra quantia?” Nem eu nem ninguém soube esclarecer
satisfatoriamente a dúvida.
Foi uma pergunta
ocasional, um ato corriqueiro, uma conversa de mesa de bar. Mas foi a
despretensiosa pergunta do meu amigo Alcimar Torquato que me jogou nos braços
das Ciências Econômicas. Passei alguns meses escarcavelando meus livros, as
bibliotecas de Rafael Negreiros, de Canindé Queiros, de Lídio Luciano de Góis e
todas as outras que via pela frente, devorando tudo que tivesse algo sobre as
varias teorias do valor. Foi o meu período que Rafael Negreiros denominou de
“furou valorizante” e Padre Sátiro Dantas de “ex taberna valor”, em um latim
propositadamente macarrônico.
Mas, conhecer as
teorias não me contentou, pois essas continham premissas científicas que eu
desconhecia. Então tive que ir atrás dos seus significados. E nesse afã, nessa
busca, entrei de cabeça. Estudei ciências econômicas e fiz especialização na
Fundação Getúlio Vargas e mestrado na PUC, ambas de São Paulo. Lá tive como
mestres nomes de peso como Paul Singer, Francisco de Oliveira, os ex-ministros Guido
Mantega, Walter Barelli e Bresser Pereira, os professores André Franco Montoro
Filho, Ademar Sato, Geraldo Muller, Armando Barros de Castro, Eduardo Suplicy e
tantos outros. Nas extensões de Sociologia e História, tive como orientadores
Octávio Ianni e Fernando Novaes, ambos também versados em economia.
Não menos importante
é a lista de colegas ilustres com quem convivi. Antonio Corrêa de Lacerda,
ex-presidente do Conselho Federal de Economia, Odilon Guedes Pinto Junior,
vereador e ex-subprefeito na capital paulista, Fauzi Tímaco Jorge, consultor de
empresas e educador, Roque Cifú Neto, Sebastião Alves Barreto e uma série de
outros nomes. Para não fazer feio perante meus ilustres colegas, até já
escrevinhei algumas monografias e livros sobre a matéria. Um deles, “Para
aprender economia”, já está na 6ª reimpressão da 2ª edição – a primeira teve 5
reimpressões.
E por que hoje estou
falando de economia? Simplesmente porque, com toda essa bagagem de estudo – e
lá se vão quase cinquenta anos – sobre os vários aspectos das ciências
economias, especialmente o monetarismo e as teorias de Alfredo Marshall e sua
“equação de Cambridge”, Milton Freidan e sua polêmica visão da missão harmônica
da moeda, Irving Fisher etc. não consigo entender a atual política de juros do
Banco Central. Se nos Estados Unidos quando a economia diminui o ritmo de crescimento
a taxa de juros diminui também, por que aqui, com as empresas devagar quase
parando e com um desemprego em passo de corrida, os juros têm que permanecer em
um patamar amoral, quase pornográfico? Não me venham com papo xenofóbico ou com
ideologias ultrapassadas dizer que as autoridades econômicas brasileiras estão
a serviço do FMI, do Banco Mundial e dos bancos internacional. Não. Isso é
besteira. Na realidade eu acho que eles simplesmente optaram pelo caminho mais
fácil e estão se poupando do “temível” esforço de pensar e não têm coragem para
inovar, como Fernando Henrique Cardoso teve para implantar o Plano Real. Sim
FHC, pois Itamar, a coisa louca das Alterosas, além de não entender nada de
economia ainda medrou e quase foi pressionado a assinar a medida provisória que
criou o novo meio circulante nacional. Somente com Real é que o Brasil voltou a
ter uma moeda com suas funções básicas: meio de troca, medida de valor e
reserva de valor. Não fosse o Real, a crise e o desemprego estariam bem maiores.
Mas esse é assunto para outro artigo.
Voltando ao assunto inicial, quem disse que mesa de bar não é
cultura?