Professor pombalense vence concurso de crônicas sobre Sivuca
Publicado em 08.08.2016
O professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, pombalense José Romero Araújo Cardoso (FOTO)
foi o grande campeão do II Lembrança do Ídolo, um concurso de crônicas
que este ano homenageia o multi-instrumentista Sivuca.
Romero
receberá sua premiação e troféu, durante o IX Festival de Músicas
Gonzagueanas (FESMUZA), no dia 20 de agosto do corrente ano, no
município de São João do Rio do Peixe.
LEIA ABAIXO A CRÔNICA VENCEDORA:
"A expressão máxima da autêntica cultura popular nordestina em Feira de Mangaio:
As
feiras livres nordestinas caracterizaram-se, em um passado não muito
distante, por serem verdadeiros repositórios para a comercialização da
produção artesanal, as quais personificam formas perfeitas e acabadas do
trabalho coletivo ou individual com pouco ou nenhum uso dos artefatos
sofisticados surgidos com a industrialização.
Em
épocas pretéritas havia ênfase quase absoluta nas feiras livres
nordestinas para a venda do que era produzido na região, ou na própria
localidade, estando hoje visivelmente submetidas aos ditames contidos no
comportamento da economia globalizada, sendo facilmente encontrados
produtos de fora, do exterior, em consonância com a oferta de objetos e
demais artes da cultura popular genuinamente regional.
Nesses
espaços marcantes, a interação entre as pessoas verifica-se
notavelmente, fomentando formas variadas de contato, as quais vão da
pechincha dos fregueses com comerciantes ao bate-papo descontraído sobre
fatos e personagens locais e das redondezas, entre inúmeras outras
maneiras de tangência direta da própria sociedade.
Momento
sublime de referência às feiras livres nordestinas encontra-se em
composição musical de autorias de Severino Dias de Oliveira, mais
conhecido como Sivuca (Itabaiana/PB, 26 de Maio de 1930 – João
Pessoa/PB, 14 de Dezembro de 2006) e de Glória Gadelha (Sousa – Paraíba,
19 de Fevereiro de 1947 - ), a qual sintetiza de forma invulgar e
extraordinária a importância assumida pelas manifestações da cultura
popular enquanto marca indelével dos espaços abertos que integram
economicamente os circuitos inferiores do processo de comercialização no
Nordeste Brasileiro.
O
povo sertanejo, com suas criações, invenções, interações e maneiras
como se apresenta a culinária regional, integram os refrães marcantes de
uma das mais belas canções regionais, pois é notável o apelo à compra
do que é ofertado através do destaque dado aos produtos.
Fumo
de rolo, arreio, cangalha, bolo de milho, broa, cocada, pé-de-moleque,
alecrim, canela, cabresto de cavalo, rabichola, pavio de candeeiro,
panela de barro, farinha, rapadura e graviola são vendidos há tempos
imemoriais em feiras livres nordestinas, razão pela qual a identificação
espaço-tempo é realizada sem nenhum empecilho no que tange ao
entendimento por aqueles que, nordestinos de fato, escutam Feira de
Mangaio, tendo em vista que, invocando conceitos pertinentes a lugar e
ao espaço vivido, a tradução precisa acerca de pertencimento está
explícita de forma clara e objetiva, pois as representações da geografia
humana contidas em uma feira livre nordestina estão definidas com
precisão, razão pela qual personagens reais do mundo dos compositores,
sobretudo ao que pertence Glorinha Gadelha, estão imortalizados através
da arte sublime de dois gênios de sensibilidade extraordinária, aos
quais o povo do Nordeste deve agradecer eternamente pelo legado ímpar e
autêntico que valoriza exponencialmente toda região.
Tudo
foi logisticamente invocado em Feira de Mangaio, desde a feira de
pássaros à vendinha localizada de forma estratégica, a qual não pode
faltar em uma feira livre nordestina, onde um mangaieiro ia se animar,
tomando bicada com lambu assado, olhando para Maria do Joá, passando
pelo sanfoneiro no canto da rua, fazendo floreio para a gente dançar,
com Zefa de Purcina fazendo renda e o ronco do fole sem parar, dando
ênfase à necessidade do sertanejo de xaxar o roçado que nem boi de carro
para garantir a sobrevivência de si próprio e da sua família,
finalizando com o fomento de que alpargata de arrasto não quer lhe levar
para sua labuta, pois o forró inebriante tomava conta da feira em todos
os quadrantes.
Causa
admiração que Feira de Mangaio tenha sido composta na globalizada e
cosmopolita Nova York, quando o casal residia nos Estados Unidos. A
estrutura começou a se efetivar quando Glorinha Gadelha estava em uma
aula de inglês, sendo concluída em um fast food da McDonalds, mas foi a
bucólica e sertaneja cidade-sorriso que serviu de inspiração para um dos
mais belos símbolos musicais do Nordeste Brasileiro.