Stéphane Travert: "Se proibimos brutalmente o glifosato, questionamos a agroecologia"
8 minutos
(MAIS UMA VEZ)
Stéphane Travert, Ministro da Agricultura e Alimentação, é o convidado de Marc Fauvelle às 8:20. Ele responde as perguntas dos ouvintes a partir das 8h40.
A Comissão Europeia deve tomar a decisão hoje de renovar ou não o glifosato por um período de 10 anos. O governo francês, que anunciou que votará contra esta extensão, está tentando estabelecer o cronograma para impedir o uso desse polêmico herbicida.
No entanto, Stéphane Travert disse no microfone de Marc Fauvelle que não quer apressar qualquer coisa que não ameace a agricultura francesa. De acordo com o ministro da Agricultura, uma cessação repentina do uso do glifosato não só prejudicaria os agricultores que o utilizam, mas todos, porque os modelos emergentes de agroecologia ainda são, apesar de tudo, frágeis.
Acreditado por alguns para atrasar a ação sobre a proibição do glifosato, enquanto Nicolas Hulot, Ministro da Ecologia, mostrou sua forte vontade de acabar com esse produto, Stéphane Travert se defendeu para estar em a bota de Monsanto.
Não há falta de manteiga, mas um mal entendido entre os processadores e o grande distribuidor
Stéphane Travert também queria esclarecer a situação, na França, da falta de manteiga nas prateleiras dos supermercados. Uma falta que explica pelas dificuldades de negociação entre os transformadores e a grande distribuição, enquanto se pede aos atores que paguem os produtores de leite ao preço certo.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
As dicas para prevenir os 6 principais golpes que tiram dinheiro de idosos
A enfermeira aposentada Maria Aparecida Cota, de 72 anos, coleciona estratégias para não cair em golpes.
Não saca dinheiro em caixa eletrônico nos finais de semana, nunca passa dados pessoais por telefone e sempre rasga cartas de supostos escritórios de advocacia dizendo que, graças a uma nova lei, aposentados têm direito a um dinheiro extra. Vez ou outra ela muda o sotaque e finge ser outra pessoa no telefone na tentativa de afastar vendedores e golpistas.
"A pessoa mais velha não fica mais esperta, não, a gente tende a precisar mais das pessoas e acaba confiando em quem é gentil. E os golpistas são bons de papo, costumam ser bem convincentes", diz Maria Aparecida, que se orgulha de nunca ter caído em nenhum golpe até hoje.
Maria Aparecida tem razão em se precaver. Os mais velhos são mais vulneráveis às artimanhas de criminosos, em especial os especializados em aplicar fraudes.
"Entre os crimes cometidos contra idosos, estelionato é o mais comum. Depois vêm roubo e desaparecimento", diz o delegado Rafael Souza Horácio, chefe do 1º Departamento da Polícia Civil de Minas Gerais.
Em Minas, por exemplo, foram mais de 6,8 mil golpes contra idosos em 2016. Apesar de o número representar 22% do total de estelionatos aplicados no Estado, é o crime que mais se comete contra os com mais de 60 anos.
O mesmo acontece em diferentes Estados do Brasil.
No Rio, dados de 2012 indicaram uma média de 22 vítimas idosas de estelionato por dia. Naquele ano, foram registrados 8,1 mil casos, número considerado elevado dado o total de idoso no estado.
Em São Paulo, o Disque 100 - serviço do Ministério dos Direitos Humanos - contabilizou 7.550 denúncias no Estado em 2016. Casos de negligência contra idosos e de violência psicológica lideram as denúncias, seguidos por abuso financeiro e econômico.
Desde janeiro, está em vigor uma lei que prevê punição maior para quem aplica golpe em pessoas com mais de 60 anos. Estelionato é o crime de "obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento". Pelo Código Penal, a pena de reclusão varia de um a cinco anos, prazo que agora pode ser duplicado caso o estelionato seja cometido contra idoso.
Dicas e golpes
Horácio diz que estelionatários sempre estão sempre fingindo querer ajudar alguém. Faz parte da estratégia exagerar na simpatia ou na simplicidade, simulando oferecer ou pedir ajuda, a depender da situação.
Nem sempre, contudo, golpes são reportados à polícia. O delegado lista algumas das fraudes mais comuns aplicadas por estelionatários, em especial contra idosos, e dá dicas de como evitar ser enganado.
1. Compra equivocada
Por telefone, uma pessoa comunica que uma compra de valor elevado foi feita com o cartão do cliente. Ao tentar confirmar dados como nome, endereço, número de conta e de cartão, coleta as informações pessoais. O delegado diz para jamais confirmar ou dar algum dado por telefone e preferir tratar de qualquer assunto na própria agência, de preferencia com o gerente.
2. Processo judicial
Uma carta ou um telefonema avisa que o aposentado tem uma causa ganha na Justiça, mas que precisa pagar os honorários de um advogado ou custas processuais para receber a indenização. O depósito é feito normalmente em contas de laranjas e a pessoa nunca recebe nenhum valor. A polícia sugere, antes de fazer qualquer pagamento, procurar informações sobre o processo junto a associações de classe ou com advogados conhecidos.
3. Troca de cartão
Golpistas costumam instalar uma máquina para reter cartões no caixa eletrônico, normalmente em horários fora do expediente bancário e nos finais de semana. Se o cartão ficar retido, procure um funcionário credenciado dentro da agência ou deixe o cartão na máquina e, posteriormente, peça você mesmo para que seja cancelado. "Sem a senha, não é possível fazer nada com o cartão. Às vezes é melhor deixar lá do que aceitar a ajuda de um estranho", diz o delegado.
Idosos nem sempre dominam tecnologia e às vezes têm dificuldade em fazer operações nos caixas eletrônicos. Golpistas se aproximam das vítimas identificando-se como funcionários do banco e oferecem ajuda. Dessa forma, acabam coletando dados pessoais como senha e código de segurança do cartão. A orientação é recusar ajuda de estranhos e procurar resolver pendências dentro da agência com funcionários credenciados.
5. Bilhete premiado
Velho golpe no qual uma pessoa, normalmente aparentando origem humilde, diz ter ganho na loteria ou ter uma indenização a receber no banco. Mas sempre há um impedimento para receber o dinheiro. Há diferentes versões: ou está sem o documento, ou tem uma dívida no banco, ou a agência já está fechada e a pessoa precisa viajar para outra cidade. O golpista repassa à vítima os direitos do "prêmio" em troca de um valor mais baixo do que deveria receber e desaparece. "Não existe dinheiro fácil. Não tem como levar vantagem econômica de forma rápida. O problema é que muitos querem mesmo é ajudar e acabam sendo vítimas", afirma o delegado Rafael Horácio.
Por telefone, uma pessoa pergunta a quem atende a chamada se ela sabe quem está falando. Chama-a de "tio" ou "tia" e tenta constranger falando que quem está do outro lado da linha se esqueceu do sobrinho (ou sobrinha) querido. Na conversa, tenta fazer com que a pessoa diga um nome de uma pessoa que conhece para, em seguida, dizer que é essa pessoa, contar que o carro quebrou no meio da estrada e pedir dinheiro para o conserto.
Se a pessoa cai na narrativa, o golpista passa dados bancários na tentativa de conseguir dinheiro por meio de uma transferência ou depósito. A dica para não cair nesse golpe é tentar inverter a lógica e extrair da pessoa que ligou o maior número possível de informações, em vez de cedê-las. Tente conseguir o nome de quem te ligou, pergunte de quem é filho ou filha, onde está e qualquer outro detalhe capaz de identificar a pessoa. Na dúvida, desligue e ligue você para o sobrinho ou sobrinha que poderia ter ligado pedindo ajuda.
"E se você for o ladrão?"
Apesar de seguir à risca todas essas dicas, Maria Aparecida conta que por muito pouco não entrou para as estatísticas das vítima de golpista. Há poucas semanas, recebeu um telefonema de uma pessoa dizendo ser do banco e comunicando que uma compra de R$ 3 mil havia sido feita com o cartão dela.
"Já sabiam praticamente todos os meus dados e acabei confirmando, sem perceber, vários deles, mas percebi que eles queriam mais porque me pediram aquele número que fica atrás do cartão. Falaram até que podiam ir até minha casa para pegar meu cartão e trocar por um novo", conta.
A aposentada, então, disse que preferia resolver o problema pessoalmente, na agência com a gerente do banco. Diante da insistência de quem estava do outro lado da linha que alertava estar ligando por uma questão de segurança, disse: "E se for você o ladrão?".
Como Portugal comprou o Nordeste dos holandeses R$ 3 bilhões
Em livro relançado, historiador brasileiro diz que lusitanos pagaram o equivalente a 63 toneladas de ouro para ter região de volta mesmo depois de derrotar holandeses no século 17.
Quadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)
Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.
O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro "O negócio do Brasil", que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.
Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.
"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.
'Pechincha'
Bandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)
Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.
Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.
Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.
Gravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630 (Foto: BBC)
"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.
Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.
Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.
'Sem heroísmo'
Quadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635) (Foto: BBC)
Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.
Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".
"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.
"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".
"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".