sábado, 20 de novembro de 2010

Matuto analisa sociedade violenta.

A sabedoria popular rural, matuta, é muito mais abrangente, humana, esperta e real do que a sabedoria do homem urbano, seja lá onde for. O homem dos grandes centros urbanos, das capitais e médias cidades do Brasil, hoje dominadas pelo individualismo, vícios e devios de condutas de diversos matizes, está cada vez desumano, egoísta, enganados e exibicionista.
O matuto nordestino continua um homem simples. O matuto vê a coisa errada, observa um pouco, analisa e opina, tenha ou não ingerido uma lapada de cachaça. Matuto é desconfiado por natureza, dizem. Algumas categorias de trabalhadores da zona rural (pedreiros, por exemplos) não acreditam muito na capacidade de trabalho do jovem trabalhador proveniente da cidade, seja pequena ou média, próxima ou distante. O assunto poderia ser estudado pelos cursos da área de ciências sociais das Universidades, assim como o problema do consumo de drogas na zona rural.
È bom conversar com o homem do interior, na Paraíba ou no Rio Grande do Norte. Em conversas em bares, descobrimos que em Bananeiras/PB, a l50 quilômetros de Natal, há uma comunidade, a Gruta de Antonia Luzia, que conserva uma dança folclórica, chamada de "Lesô", há mais de 150 anos e que é desconhecida pela população do seu município.
Num boteco de beira de estrada, na Chã do Lindolfo, onde existe a comunidade da "Gruta", conheci um ex-pedreiro de 64 anos, Francisco Claver da Silva, que levou uma queda de motocicleta e quase perde uma perna. Adoentado, puxando uma perna, ele teve mais tempo de observar o mundo que lhe rodeia e foi o primeiro homem que entrevistei e que já dançou o "Lesô" na juventude. "Dancei e muito o lesô, no tempo que era bom e não havia essa violência de hoje. Era uma brinca boa e limpa, sem confusão, mas com muita bebida e comida. Mas o tempo mudou muito. Antigamente, não havia revólver por aqui, só faca. Hoje, a coisa está feia, é arma como os seiscentos diabos. A violência de hoje, desses meninos por aí, é tudo por causa da inveja, o outro que tomar na marra o que os outros têm. Eu posso ir a uma festa e não voltar com vida ou perder a minha moto. No fundo de tudo isso é inveja mesmo, pode ir atrás pra saber. Tomar as coisas sem esforço. Isso ´´e obra da natureza de cada um. Eu rogo a Deus e peço a Jesus felicidades para me livrar dessas passagens", disse Francisco Claves da Silva, conhecido por "Cláudio", corruptela de Claver, sobrenome de antiga família rica da região, os Claver Grilo.
Ele nunca ouviu falar no "Barão de Araruna", Estevão José da Rocha, "sangue dosd Arruda Câmara, do Piancó, e Ferreira de Macedo, de Picuí", segundo Luís da Câmara Cascudo. Dona Maria da Silva, dona do boteco "Sabor Real", do bairro Planalto, em Bananeiras/PB, dançou "lesô" e se lembra das cantorias improvisadas, mas garante que nunca ouviu falar no "Barão de Araruna". Falta de de informação, de instrução e de comunicação. Mas isso é outra história.
Luiz Gonzaga Cortez, jornalista e pesquisador.

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