Especialistas explicam aumento de raios em Natal
Ocorrência de dois sistemas que provocam chuvas e alta temperatura das águas do Oceano Atlântico são explicação para descargas elétricas, segundo pesquisadores da Emparn e da UFRN.
Por Igor Jácome, G1 RN
Raios e relâmpagos chama atenção de moradores em Natal e região — Foto: Redes sociais
Até a manhã esta quarta-feira (13), a Companhia de Energética do Rio Grande do Note (Cosern) registrou 1.415 ocorrências de interrupções provocadas por raios no sistema de energia que abastece o estado. Ao longo de 2018, foram 2.054. Embora os relâmpagos e trovões sejam comuns no interior do estado, chamam a atenção dos moradores da região metropolitana de Natal, que consideram que a quantidade dessas descargas elétricas aumentou nos últimos anos.
"Hoje eu estou me sentindo como no tempo em que morava em Mossoró. Moro há quase 20 anos em Natal e nunca vi isso. Sempre as chuvas eram mais calmas, com muita água, mas sem tanto relâmpago e trovão", diz a professora Miriam Rodrigues, de 55 anos, que atribui o aumento dos raios à elevação da temperatura.
Para os especialistas, não há um registro de aumento dessas descargas elétricas ao longo de séries históricas. Eles explicam, porém, que a existência de alguns sistemas atmosféricos que acontecem principalmente no verão estão intensificando a ocorrência desses distúrbios neste ano. Outra razão é a alta temperatura das águas no Oceano Atlântico, próximo ao litoral.
"O que aconteceu é que em verões específicos existem sistemas que acontecem quase que ao mesmo tempo, alguns em elevadas altitudes, a 10 ou 12 quilômetros de altura. Há um movimento levando umidade para o alto. Lá, as partículas viram gelo e existe uma polarização da nuvem, que causa as descargas elétricas", diz o professor de Meteorologia, Weber Andrade Gonçalves, do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Professor Weber Andrade Gonçalves, do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas da UFRN, explica ocorrências de raios em Natal — Foto: Mariana Rocha/Inter TV Cabugi
De acordo com ele, os dois sistemas que estão provocando as chuvas atualmente são a Zona de Convergência Intertropical, que começou mais cedo neste ano, e o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis que está sobre a Bahia. "Lá (na Bahia) não está chovendo porque esse sistema provoca chuvas na sua borda, que está aqui", explicou.
Já o meteorologista Gilmar Bristot, da Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Norte (Emparn) reforça que a chuva e os "distúrbios atmosféricos" causada pela Zona de Convergência Intertropical é comum para o período, mas foram intensificados pela temperatura das águas superficiais do oceano Atlântico, próximo ao litoral nordestino, que está acima do normal, chegando a ultrapassar 29º C.
"Isso mantém a umidade relativa do ar sobre a região sempre alta, o que colabora para a formação de chuvas com intensidade moderadas a forte. Essa condição deverá se manter durante os próximos dias, não que vá chover de forma intensa e continua, mas porque estamos na estação das chuvas", informou a Emparn.
Previsão de mais chuva
A previsão para o resto da semana será com predominância de céu parcialmente nublado com chuvas em todas as regiões do Estado, segundo a Emparn. A empresa ainda afirmou que no Litoral Leste as chuvas poderão ocorrer a qualquer hora do dia com maior ocorrência durante o período noturno e início da manhã.
No interior, devido ao fato que as chuvas necessitam de calor, deverão ocorre mais no período da tarde e início da noite.
"Lembramos que pela influência do relevo acentuado (vale, chapadas e montanhas), deverão ocorrer formação de nuvens tipo Cumulus Nimbus, nuvens de forte desenvolvimento vertical que podem causar distúrbios atmosféricos como descargas elétricas, trovoadas ventos forte e queda de granizo, principalmente nesta época do ano em que estamos próximos à mudança de estação", apontou a Emparn.
Dicas de segurança
Nesta quarta-feira (13), a Cosern divulgou dicas de segurança para evitar acidentes envolvendo energia elétrica durante as chuvas.
- Não ligue equipamentos elétricos se você estiver molhado ou descalço;
- Em caso de choque elétrico dentro de casa, desligue imediatamente o disjuntor;
- Desconecte das tomadas, com segurança, os aparelhos eletrônicos que não estiverem sendo usados;
- Se perceber que as paredes da casa estão úmidas, evite o contato com elas e não ligue equipamentos elétricos em tomadas instaladas ali, pois elas podem ser fonte de choques (veja dica acima) e mau funcionamento de equipamentos;
- Não seque roupas na parte de trás da geladeira. Isso representa risco de choque elétrico e pode danificar o equipamento;
- Ao ar livre, sempre mantenha distância da rede elétrica, independente se estiver chovendo ou não;
- Evite ficar em áreas descampadas (abertas) como campos de futebol, piscina, lagos, lagoas, praias, árvores, postes, mastros e locais elevados. Recomenda-se ficar dentro de casa ou em local abrigado durante a chuva;
- Não fique debaixo de árvores e/ou estruturas metálicas durante temporais com raios e, em casa, evite o contato com objetos com estrutura metálica como fogão, canos, etc., sobretudo se a casa estiver em campo aberto;
- Não realize serviços como instalação ou manutenção de antenas em locais onde o risco de exposição aos raios seja maior;
- Não instale, desligue ou remova antenas se estiver chovendo. Se sua antena cair sobre a rede ou próximo a ela, nunca tente segurá-la ou recuperá-la;
- Caso encontre um fio caído, jamais se aproxime e ligue imediatamente para o 116 da Cosern.