quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A CNEC não morreu.



Em 1957, estudei no Colégio Mageense, que depois passou a se chamar Colégio Cenecista Dedo de Deus. Em 1968, fui convidada para dar aula, como professora voluntária, no Curso de Admissão do Colégio Cenecista Primeiro de Maio, em Santo Aleixo. Em 1969, fui convidada pelo Gal. Mário Barreto França, Superintendente da CNEC-RJ para dirigir uma Escola Cenecista, em Piabetá, no 6º Distrito de Magé-RJ. Apaixonada pela educação, claro, aceitei, mas quando fui conhecer a sede da Escola (100 alunos matriculados) não havia, fiquei um pouco assustada: a secretaria funcionava no corredor de um prédio que pertencia ao Estado e contava apenas com quatro salas de aula, iluminadas com lampiões a gás. Nenhum recurso mais. Um economista teria me aconselhado a sair correndo, sem olhar para trás. Todavia, consultei o coração e aceitei o desafio: fiquei 11 anos lutando, junto daquela comunidade.
Conheci Dr. Felipe, quando dirigia a Escola, numa tarde, quando estava triste, porque acontecera uma verdadeira catástrofe. Havia chovido muito e o vento derrubara uma grande parte da construção da sede própria, que lutávamos para construir em mutirão com a comunidade. Tudo até ali havia sido feito com verba arrecadada de festas, sorteios, doação de amigos e muito luta. O que fazer agora? Lógico! Escrevi uma carta para a CNEC de Brasília, chorando e pedindo uma ajuda para reconstruir o que foi destruído. Ele, Dr. Felipe, em carne, osso e emoções, veio de tão longe (1000 km de distância) dar a resposta, pessoalmente, trazendo a ajuda de que tanto precisávamos. Nem era grande a quantia em dinheiro, mas o amor demonstrado contagiou, abasteceu, e transbordou em nossas vidas.
Em 1973, fui conhecer Brasília, na única vez que consegui ficar de férias, e aí chegando lá, claro, procurei o endereço da sede da CNEC. Onde? Fui ao Ministério da Educação para saber onde ficava. Ao subir, antes de apertar o botão do elevador, olhei e...lá estava Dr Felipe, dentro do elevador, por  coincidência?  Fiquei muito feliz, porque o reconheci, mas confirmei, ao perguntar, o senhor é o Dr. Felipe? E ele, como sempre, tão simpático disse que sim, aí estufei o peito (porque perto dele a gente se sentia sempre muito grande) e me apresentei. Nem subimos, porque ele estava ali, no MEC,  procurando alguém para ajudá-lo a organizar o Congresso e a comemoração dos 30 anos de vida da CNEC. Em plena crise de abastecimento de carne, levantava-me às 5 horas da manhã para entrar na fila e olha que faz frio, em Brasília, em julho. E as minhas férias? Ficou para outra época.
Voltei ao Rio. O Visconde de Mauá já estava com quase dois mil alunos. Na época eu era Secretária Municipal de Educação de Magé. Mais uma vez, qual foi a minha surpresa, quando o telefone tocou e, do outro lado, Dr. Felipe disse que o meu nome era o mais indicado para Administrar a CNEC-RJ. Fiquei perplexa! Minha cabeça deu milhões de voltas. Com dois filhos pequenos, morando a 50 km do Rio. Como seria isto? E o Visconde de Mauá? Meu marido, sempre respeitou minhas opções, mas esse convite mudaria muito a rotina de nossa vida. Como dizer não?
No dia 5 de junho de 1975, tomei posse. A CNEC estava unificando a administração da Guanabara  com a do Estado do Rio. Agora era um só Estado. Tudo muito complicado! Muitas Escolas deficitárias. Algumas deveriam encerrar as atividades. Só isto iria consumir todo o tempo, mas ainda havia outras 182 escolas cenecistas clamando por assistência. Não havia fim de semana, férias ou feriado. Era dureza ver o meu filho caçula dizer que quando crescesse gostaria de ser piloto para jogar uma bomba em cima da CNEC! Porque ele sentia muito a minha falta... Apesar de todos os sacrifícios, vencemos sempre!
Em 1980, ao sair da direção da Escola, por opção minha, precisava dar assistência aos meus filhos, lá estava a sede própria do Centro Educacional Visconde de Mauá, numa área que meu pai pediu ao Prefeito Magid Repanni e foi doada pela Prefeitura, com o prazo de dois anos para construir, senão perderíamos a área. Todavia, o grande mutirão comunitário deu resultado:12 salas de aula, secretaria, biblioteca, quadra de esportes, banda de música, e o nome da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade respeitado no Município de Magé.
Após anos de luta no Rio, no dia 06 de julho de 1990, fomos convocados novamente pelo Dr. Felipe para ajudá-lo, em Brasília, na Administração Central. Quem teria coragem de dizer não a um homem daquele? Arrumamos a mala e fomos eu e o meu marido, Nelci, que sempre me apoiou, trabalhando, sem receber um centavo da CNEC. A grandiosa luta continuou. Daria para escrever um livro, com lágrimas, muitas lágrimas, porém, as vitórias superaram e com a força de Deus caminhamos, sempre. Foram mais sete anos,em Brasília, ombro a ombro, com a equipe-irmã da Administração Central, inúmeras vezes, todos colocando o próprio corpo na frente do grande herói Felipe, para as pessoas não feri-lo, nas duras batalhas. Valeu a pena.
Quando em 1993, Coordenei a grandiosa Festa Nacional do cinqüentenário da  o Teatro Municipal de Brasília estava lotado. A magia da entrada triunfal dos Estados, portando as bandeiras, a emoção do hino cenecista cantado, com tanto fervor, e o encerramento de quase arrebatamento, quando o Pai Nosso foi cantado, a capela.
Em 1996, Dr. Felipe não morreu! O céu o convocou para contabilizar com os anjos, tudo o que a CNEC havia feito até ali: milhares de vidas resgatadas do abandono, do analfabetismo, da falta de oportunidade, da miséria social. A Deus toda honra e toda a glória!
 Ivone Boechat
aluna, professora,
diretora cenecista, Superintendente Estadual da CNEC- Rio de Janeiro e Bahia

Superintendente Itinerante Nacional da CNEC

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