ÃOS
E INHAS
Públio José –
jornalista
Todos sabem que no Maranhão os superlativos começam pelo nome do estado,
com um ão no final. E, ao se dar uma espiada mais acurada em sua história ao
longo do tempo, vê-se que no Maranhão tudo é ão mesmo. A miséria maranhense é
ão; a pobreza generalizada é ão; o analfabetismo também não fica atrás e é ão;
a escravidão política do povo maranhense também é ão; a educação por lá também
é ão pela péssima qualidade; a saúde não fica atrás de ruim e se perfila aos
demais aspectos da realidade do estado também sendo ão; a economia, de tão
concentrada, também é ão; as estradas, quase inexistentes, também são ão;
enfim, tudo no Maranhão é ão. Tudo lá é aumentativo – com viés e essência
negativos. Para completar a realidade ão do Maranhão, a Procuradoria Geral da
República está em vias de entrar na Justiça do Estado pedindo a intervenção
pela crise de segurança que atinge o Maranhão.
E, numa região do Brasil em que tudo é ão, aparece um diminutivo para confundir
as coisas e criar um paradoxo digno das criações mais tresloucadas do mais
tresloucado roteirista. Refiro-me ao CDP – Centro de Detenção Provisória
de Pedrinhas. Ironizando ainda mais a história do Estado, esse CDP que atende
pelo nome de Pedrinhas é a
instituição mais ão do Maranhão, uma verdadeira casa de horrores. Segundo
levantamento do jornal Folha de São Paulo, o inha do Maranhão é responsável
pela morte de sete detentos só nos quatro meses deste ano, de um total de dez
assassinatos ocorridos no interior do sistema prisional maranhense. E são
mortes de deixar boquiabertos os piores matadores da história da humanidade, a
ponto de chamar a atenção da imprensa internacional e levar a Procuradoria
Geral da República, como já dito, a solicitar à Justiça a intervenção federal
no Estado.
Segundo a Folha, para a imprensa estrangeira, “Pedrinhas tornou-se, desde
o ano passado, sinônimo de violência e barbárie do que ocorre nas cadeias
brasileiras”. Ou seja, do bárbaro, insano e bestial sistema prisional
brasileiro, Pedrinhas se destaca por ser ainda mais bárbaro, mais insano, mais
bestial. Por lá, com a capacidade gerencial ão do governo, as coisas alcançaram
o mais alto patamar do ão, do absurdo. Vídeo da Folha mostra em detalhes o
horror de três presos sendo decapitados, “enquanto seus algozes
comemoram, com deboche, o assassinato frio”. E isso tudo acontecendo em
um Estado dominado pelo poderoso senador José Sarney, cujo staff – entre
asseclas, correligionários, lideranças as mais diversas e familiares em
abundância – faz o Maranhão permanecer no mais baixo degrau da escala da
pobreza, da miséria, da ignorância, da violência, do analfabetismo.
E Pedrinhas? Não é uma graça esse nome? Pedrinhas... Parece até literatura
infantil. Pedrinhas... Em criança, lembro de passar tempo na praia recolhendo
pedrinhas. Com elas eu cultivava a imaginação, além de usá-las para várias
atividades de lazer. Pedrinhas eram dinheiro nos jogos da meninada; pedrinhas
eram munição para baladeiras; pedrinhas eram veículos nas estradas da
imaginação; pedrinhas eram elementos de decoração na sala de estar da família;
pedrinhas, nas aulas de desenho da escola, eram elementos para exercitar os
dotes artísticos de futuros pintores e desenhistas. Tudo muito inocente; tudo
muito inhas. Hoje, o Brasil descobre que em um ambiente ão, como o do Maranhão,
o inha representa o lado mais negro, mais sórdido da perversidade humana
agregada à incompetência – a ponto de tornar o já enorme ão do Maranhão
muito mais ão. Pedrinhas... Pobre Maranhão...
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