O poder da cerveja nas eleições; Como cervejarias embriagam políticos e silenciam a mídia para proteger seus interesses
6 de setembro de 2014 10:36 | |
O superpoder da cerveja no Congresso e na TV
Como as cervejarias conseguem manter a publicidade
de bebida na TV e calar a mídia, com a ajuda de seus aliados no Congresso
Por Marcelo Godoy*
Recentemente foi
divulgado que uma das três empresas responsáveis por 65% do financiamento das
campanhas eleitorais dos onze candidatos a Presidência da República é a AMBEV.
Quais seriam os
interesses das empresas de cerveja no financiamento de campanha dos candidatos
a Presidência, Senado e Congresso Nacional?
Em 1996, a Lei Federal
em vigor, Nº. 9.294/1996 que regula as restrições a publicidade de bebidas foi
modificada pela “bancada da bebida”, formada por deputados e senadores que
representavam o interesse deste grupo. Na época, uma comitiva de artistas,
publicitários, esportistas etc, em uma grande articulação das indústrias de
cervejas, das agências de publicidade e dos meios de comunicação, compactuaram
e pressionaram os parlamentares para que a cerveja não fosse incluída na Lei.
Mesmo contra todos os
argumentos do Ministério da Saúde, o lobby venceu, e a Lei excluiu das
restrições à publicidade bebidas como a cerveja, cujo teor alcoólico é igual ou
inferior a 13 graus Gay-Lussac, permitindo assim, que a “gelada” escapasse das
restrições à publicidade da TV, como aconteceu com as bebidas destiladas
(whisky,vodca, etc).
Nos últimos 10 anos, o
extraordinário investimento em publicidade de cerveja, algo em torno de mais 4
bilhões de reais anuais, e o aumento da renda do brasileiro, ampliaram
nacionalmente o consumo de cerveja, especialmente entre jovens e mulheres
A falta de controle
federal, estadual e municipal, de regras e penas mais rígidas, fiscalização,
culpabilidade, de uma comunicação ética e responsável, aliado a falta de
educação, maturidade e responsabilidade de quem dirige embriagado, criaram
uma “horda de zumbis” que, como podemos
acompanhar diariamente, matam e ferem motoristas, passageiros, pedestres,
ciclistas, motociclistas e o que cruzar os seus caminhos
O prejuízo em números de
vítimas fatais e invalidez no trânsito é maior do que a soma das mortes
causadas pela indústria de cigarro, pelo simples e trágico fato que apenas um
motorista alcoolizado, pode eliminar toda uma família.
Anualmente são mais de
100.000 mortos, e em torno de 500 mil vítimas de traumatismo causados por
acidentes no trânsito por excesso de álcool no sangue. E os números não param
de crescer.
Diante da brutalidade
dos números e dos fatos, parte da sociedade civil e do governo, buscam
encontrar saídas para estancar esta quantidade absurda de mortos e feridos
Segundo a OMS,
Organização Mundial da Saúde, uma das medidas mais eficazes para diminuir as
mortes de transito é a regularização da publicidade de cerveja. Não adiantaria
colocar apenas uma mensagem no final do texto enquanto se estimula, a qualquer
custo, e de qualquer forma, o consumo. O
ideal seria, assim como foi feito com o cigarro, banir definitivamente a
propaganda de cerveja da Televisão e rádio no Brasil, ou no mínimo
regulariza-la.
Mas o desafio é muito
grande. O time que representa a indústria de cerveja inclui senadores e
deputados, muitos deles donos de concessões de emissoras que recebem parte dos
bilhões que são veiculados em propaganda de cerveja, o homem mais rico do
Brasil, as redes de TV e Rádio, portais, revistas, agências de publicidade e
promoção, as entidades que as representam, como ABAP - (Associação Brasileira
das Agências de Publicidade), Conar - (Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária),
o Sindcerv – (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), entre outros.
Nenhuma emissora
comercial de TV ou Rádio, permite que se divulgue ou se associe, em seus
jornais ou programas de reportagem, qualquer conexão entre violência no trânsito
e publicidade de bebidas alcoólicas. Muitas vezes, o próprio programa que
denuncia e expõe as tragédias das mortes nas estradas no carnaval é patrocinado
por uma empresa de cerveja.
As poucas exceções são
os portais independentes, as emissoras públicas, educativas e culturais como a
TV Brasil, TV Cultura, TVT - TV dos Trabalhadores, que não precisam do dinheiro
dos anunciantes de cerveja e podem se posicionar de forma critica e
independente. Mas, infelizmente, é pouco, muito pouco, comparado a audiência
dos gigantes da mídia. Está provado que a exposição à publicidade de bebidas
alcoólicas está relacionada com um consumo maior e mais precoce, principalmente
entre adolescentes e adultos jovens.
Na época em que a
propaganda de cigarros era permitida, houve uma grande agência de propaganda
que se notabilizou por não atender contas de cigarro e nem por isso faliu ou
deixou de prosperar. Se a propaganda de cerveja for regularizada, o país como
um todo irá ganhar.
A campanha ”Cerveja
Também é Álcool” que propõe a alteração do parágrafo único do artigo 1º da Lei
Federal 9.294/96 para que as restrições à publicidade passem a abranger toda e
qualquer bebida, com graduação alcoólica igual ou superior a 0,5 grau
Gay-Lussac esta disponível na web. Para
assinar a petição online, clique https://www.change.org/
*Texto com postagem no Portal Planeta Jota
-- Postado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo no AssessoRN.com em 9/06/2014 10:36:00 AM |
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