segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Paraíba explodiu Hiroshima?

Durante a Segunda Guerra, americanos teriam se instalado no sertão brasileiro, de onde extraíam urânio para a fabricação de armas

Bernardo Camara
6/12/2009

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  • Pelos caminhos do sertão do Seridó, na Paraíba, as lendas brotam como xique-xique, e uma delas chama atenção pelo inusitado. Rica em minério, a região teria sido procurada por militares americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Com seus jipes e cabelos claros, eles chegaram atrás do urânio, que enviavam à terra natal para a fabricação de armamentos bélicos. Foi a bomba atômica cair sobre os japoneses e os paraibanos não tiveram dúvida: o sertão tinha um pezinho na explosão de Hiroshima.

    Em andanças pela cidade de Picuí, não faltam testemunhas da chegada dos ianques. “Eram uns galegões. Mister MacLaine, Mister Maclu, Seu Daivid”, recorda Valdo Medeiros de Araújo, de 80 anos. Garimpeiro, ele é um dos moradores que trabalharam na extração e venda de minérios para os americanos.

    A história será contada no documentário “Urânio Picuí – Produto brasileiro/Tipo exportação”, dirigido pelos jovens Tiago Melo e Antônio Carrilho, e que está sendo rodado durante este mês. Nascido na região, Tiago cresceu ouvindo histórias de garimpo. A de Hiroshima não lhe saiu da cabeça, e quando terminou o curso de Cinema, decidiu que iria registrar toda a oralidade que rodava a região.

    Ele passou quatro anos pesquisando as lendas de Picuí. Para tanto, não precisou de muito tempo em bibliotecas e arquivos públicos. Com pouquíssimo material escrito sobre o assunto, o levantamento foi in loco, no sofá das casas de antigos habitantes. “Nós fomos conversando com velhos garimpeiros e eles iam contando suas histórias”, diz, comentando que o “causo” da bomba atômica é dos mais populares: “Toda a cidade conhece”.

    A irmã de Valdo, Rita Medeiros de Araújo, de 84 anos, é uma das que gostam de prosear sobre o tema. Ela tinha 26 quando chegaram os primeiros jipes, carregados de máquinas que as minas do sertão mal sabiam que existiam. Convidada a trabalhar na lavagem de roupa dos recém-chegados, ela sempre cruzava com os militares. “Tinha pouca conversa com eles. Mas com tanta pedra bonita, eles repetiam com aquele sotaque: ‘Brasil rico! Brasil rico!’”, relembra.

    Tiago conta que os visitantes trouxeram o que havia de mais moderno na época para a extração dos minérios. “Eles chegavam às propriedades e deixavam maquinário, dinamite, compressor e outras ferramentas. Uma vez por semana, voltavam para recolher os equipamentos e pagavam pelo serviço desses garimpeiros um preço bem baixo”, diz. “Não havia leigos. Eles sabiam onde havia minério, já trabalhavam com isso em outros cantos”, afirma o cineasta. Com o material reunido, dirigiam-se para o Rio Grande do Norte, de onde mandavam o produto para os Estados Unidos de navio.

    A presença dos americanos no sertão durou o período da guerra. Em 1945, arrumaram as malas e foram embora. De lembrança, deixaram algumas construções erguidas na época em que se instalaram em Picuí. E um bocado de histórias que continuam na boca e no imaginário do povo.

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