Médicos cubanos: avança a integração
da América Latina!
“O que brilha com luz
própria , ninguém pode apagar
Seu brilho pode alcançar a escuridão de outras
costas
Que pagará este pesar do tempo que se
perdeu....
Das vidas que nos custou e das que nos podem
custar..
O pagará a unidade dos povos em questão....
E a quem negar esta razão, a história condenará...”
Canción por La Unidad Latinoamericana
Pablo Milanez
Não faltaram emoção, lágrimas e
dignidade na chegada dos 176 médicos cubanos, que desembarcaram neste sábado à
noite em Brasília, para um trabalho indispensável em municípios brasileiros,
mais de 700, ainda sem qualquer assistência médica. Quando aqueles cidadãos cubanos, muitos deles
negros, muitas mulheres, com bandeirolas brasileiras e cubanas nas mãos,
pisaram o solo brasileiro, ali estava o retrato do enorme progresso
social, educacional e sanitário alcançado pela Revolução Cubana. Mas, também,
uma prova concreta de que a integração da América Latina está avançando; não é
só comércio, é também saúde. O Brasil
coopera com Cuba na construção do Complexo Portuário de Mariel - sua mais
importante obra de infra-estrutura
atualmente - e Cuba coopera com o
Brasil preenchendo uma lacuna imensa, a falta de médicos.
A campanha conservadora contra a
integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais
Médicos , começar a apresentar seus
efeitos concretos. Esses resultados terão a força para revelar o teor
medieval das críticas feitas pelas
representações médicas e pela mídia teleguiada pela publicidade da indústria
farmacêutica.
Volumosa desinformação
Tendo em vista o volume de
desinformação que circulou contra a vinda de médicos estrangeiros, mas contra os médicos cubanos em especial, é
obrigatório travar a batalha das idéias, primeiramente, em defesa da Revolução
Cubana como uma conquista de toda a humanidade. Cercada, sabotada, agredida, a
Revolução Cubana, que antes de
1959, possuía os mais tenebrosos
indicadores sociais, analfabetismo
massivo, mortalidade infantil indecente, desemprego e atraso social
generalizado, consegue libertar-se da condição de colônia, e, mesmo sem ter uma
base industrial como a brasileira, por exemplo,
e passa a exportar médicos, professores, vacinas, desportistas.Exporta,
principalmente, exemplos!
Esse salto histórico da Revolução
Cubana deixa desconcertada a crítica, seja
emanada pela mídia colonizada
pelas lucrativas transnacionais fabricantes de fármacos ou equipamentos
hospitalares, seja a crítica oligarquia difundida pelas representações médicas.
Os que questionam a qualidade da formação profissional dos médicos cubanos são
desafiados a responder por que a mortalidade infantil em Cuba é das mais baixas
do mundo, sendo inferior, inclusive, àquela registrada no Estado de Washington,
nos EUA?
Cuba e a
libertação africana
Vale lembrar que Cuba possuía,
antes de 1959, pouco mais de 6 mil médicos, dos quais, a metade deixou o país
porque não queria perder privilégios, nem concordava com a socialização da
saúde. Apenas cinco décadas depois, é esta mesma Cuba que tem capacidade de
exportar milhares de médicos para socorrer o povo brasileiro de uma
indigência grave construída por um sistema de saúde ainda
determinado pelos poderosos interesses das indústrias hospitalar, farmacêutica
e de equipamentos, privilegiando a noção de uma medicina como um negócio, uma
atividade empresarial a mais, não como um direito, como determina nossa
constituição.
Já em 1963, quando a Revolução na
Argélia precisou, iniciou-se a prática de cubana de enviar brigadas médicos aos
povos irmãos. Ensanguentada pela herança da dominação francesa, a Revolução
Argelina encontrou em Cuba a fraternidade concreta, quando ainda não havia na
Ilha um contingente médico tão numeroso como o existente atualmente. Predominou
sempre na Revolução Cubana a idéia de que em matéria de solidariedade
internacional comparte-se o que se tem,
não o que lhe sobra. Foi exatamente ali na Argélia que se estabeleceram laços
indestrutíveis entre a Revolução Cubana
e os diversos movimentos de libertação da África. A partir daí, Cuba participou
com brigadas militares e médicas em
diversos processos de libertação nacional do continente. De tal sorte que, em
1966, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no
Congo, foi organizada por médicos cubanos! Os CRMs conhecem esta informação?
Sabem que a poliomielite foi erradicada em Cuba décadas antes do Brasil
fazê-lo?
Será o Revalida capaz de avaliar a dimensão
libertadora da medicina cubana?
Quando Angola foi invadida por
tropas do exército racista da África do Sul, baseado nas supremas leis do
internacionalismo proletário, Agostinho Neto, presidente angolano, também
médico e poeta, solicita a Fidel Castro ajuda militar para garantir a soberania
da nação africana. Uma das mais monumentais obras de solidariedade foi
realizada por Cuba que, ao todo, enviou a Angola, cerca de 400 mil homens e
mulheres para, ao lado dos angolanos e namíbios, expulsar as tropas
imperialistas sul-africanas tanto de Angola como da Namíbia. E sob a ameaça de
uma bomba atômica, que Israel ofereceu à África do Sul, argumentando que as tropas
cubanas tinham que ser dizimadas porque pretendiam chegar até Pretória..... Na
heróica Batalha de Cuito Cuanavale - que todos os jornalistas, historiadores,
militantes deveriam conhecer a fundo - lá estavam as tropas cubanas, mas lá estavam
também as brigadas médicas de Cuba, que se espalharam por várias pontos de
Angola. A vitória de Angola e da Namíbia contra a invasão da África do
Sul, foi também a derrota do regime do
Apartheid. Citemos Mandela: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim
do Apartheid. Devemos o fim do Apartheid
a Cuba!”.
Qual exame Revalida será capaz de
dimensionar adequadamente o desempenho de um médico cubano em Cuito Cuanavala,
com sua maleta de instrumentos numa das mãos e na outra uma metralhadora,
livrando a humanidade da crueldade do Apartheid? Como dimensionar o bem que o fim do
Apartheid, com a decisiva participação cubana, proporcionou para a saúde social da História da Humanidade?
As crianças de Chernobyl em Cuba
O sentido de solidariedade
internacionalista está tão plasmado na sociedade cubana que, quando aquele
terrível acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986, o estado cubano recebeu, das organizações dos
Pioneiros - que
congregam crianças e adolescentes cubanos
- a proposta de oferecer tratamento médico às
crianças contaminadas pela radioatividade vazada no desastre. Um documentário
realizado pelo extinto Programa Estação Ciência, dirigido pelo jornalista Hélio
Doyle, exibido com freqüência TV Cidade Livre de Brasília, registra como Cuba
compartilhou seus recursos médicos e hospitalares, mas, sobretudo, sua fraterna
solidariedade com cerca de 3 mil crianças russas que foram levadas para
tratamento na Ilha, nas instalações dos Pioneiros, em Tarará. Destaque-se, primeiramente, que a idéia
partiu dos Pioneiros. Segundo, que Cuba não se colocava na condição de doadora,
mas apenas cumprindo um dever solidário. Lembravam que o povo soviético havia
sido solidário com Cuba quando os EUA iniciaram o bloqueio contra a Ilha
cortando a cota de petróleo e do açúcar, suspendendo o comércio bilateral, na
década de 60. A URSS passou a comprar todo o açúcar cubano, pelo dobro do preço
do mercado internacional, e a abastecer Cuba de petróleo, pela metade do preço
de mercado mundial. São páginas escritas, em uma outra lógica, solidária,
fraterna, socialista. É de se imaginar o quanto os dirigentes das
representações médicas brasileiras poderiam aprender com aquelas crianças
cubanas que ofertaram tratamento às 3 mil crianças russas, um contingente menor
que o de médicos cubanos que virão para o Brasil?
Impublicável
A cooperação entre Brasil e Cuba
em matéria de saúde não está iniciando-se agora. Durante o governo Sarney,
recém re-estabelecidas as relações bilaterais, em 1986, foram as vacinas cubanas contra a meningite
que permitiram ao nosso país enfrentar
aquele surto. Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha
contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por
comprar grandes lotes da vacina desenvolvida pela avançada ciência de
Cuba. De modo venenoso, tentou-se
desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora
atacam a medicina cubana. Na época, foram
as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. Mas,
também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um
pouco dos valores e das conquistas de uma revolução. Afinal, por que um país com
poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não
apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas, também
desenvolver uma tecnologia com capacidade para
produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito
mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões, não tinha capacidade para defender seu
próprio povo de um surto de meningite? São sagradas as prioridades de uma
revolução. E é por isso, que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo, se vê na obrigação de recorrer a Cuba para não permitir a continuidade de um crime social
configurado na não prestação de atendimento médico a milhões de brasileiros.
Mais recentemente, quando a
Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a
produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela que se espalhou pela África, obteve como
resposta desta indústria o mais sonoro e insensível NÃO. Os preços que a OMS
podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas,
apetitosos. Milhões de vidas africanas
passaram correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais,
o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o Instituto Finley, cubano. Essa cooperação
permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a
África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado
internacional. Onde foi publicada esta informação?
Apenas
na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria
farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia brasileira em relação ao programa Mais
Médicos e à cooperação da Medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande
público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação
estatal brasileiro-cubana.
Os médicos cubanos e o furacão
Katrina
Para dimensionar a inqualificável
onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia
oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, o que
revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão
pública. Quando ocorre o trágico furacão Katrina, que devasta Nova Orleans,
deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o
desinteresse do governo dos EUA naquela oportunidade, em prestar-lhe socorro, também foi Cuba que colocou à disposição
do governo estadunidense - malgrado toda a hostilidade ilegal deste
para com a Ilha - um contingente de 1300 médicos ,
postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar prestar ajuda
à população afetada pelo furacão. Aguardavam apenas autorização para o
embarque, e em questão de 3 horas de vôo
estariam em Nova Orleans salvando vidas. Esta autorização nunca chegou da Casa
Branca. A resposta animalesca do
presidente George Bush foi um sonoro NÃO
à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica,
provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco
caráter, que tal recusa representava. Os
Eua estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo. Mas,
são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o
suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada
pelo furacão.
Uma
Escola de Medicina para outros povos
Também não circulam informações
aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a America Central e parte
do Caribe, decide montar uma Escola Latino-americana de Medicina, que, em pouco
mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos
estrangeiros, gratuitamente. Entre eles, 500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores
dos bairros do Harlem e do Brooklin. Eles me revelaram que se tivessem
continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do
narcotráfico. Frisavam que, estar ali em Cuba, formando-se em medicina,
gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo
não lhes oferecia. Há, estudando na
ELAM, cerca de uma centena de jovens do MST, filhos de assentados da reforma
agrária. Isto significa que Cuba
compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. Também estudam
lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos
trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de
dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?
Ampliar a integração em outras áreas
Também não se divulgou por aqui, que Cuba montou três Faculdades de Medicina na
África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial),
em pleno funcionamento, com professores cubanos. Toda esta campanha de
insultos contra Cuba e os médicos cubanos, abre uma boa possibilidade para
discutir e conhecer mais a fundo todas
estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas
reflitam sobre quantas outras
possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras
áreas.
Mas, serve também para reavaliar
a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se
opõe, inexplicavelmente, ao Programa
Mais Médicos, alguns chegando, ao absurdo de terem apresentado projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10
anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil.
Qualificar
o debate sobre a integração
Enfim, um debate democrático e
qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos
aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também, sobre as conquistas da
Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo
movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba,
pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da America
Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população
mais pobre. A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar
documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e
adversas em diversos países.
É preciso expandir esta integração, avançar
pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil
ainda não esteja conectado com a
Telessur, por exemplo, que divulgado amplo material jornalístico informando que
3 milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira
graças a Operação Milagro, pela qual
médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas
em vários países da região. Enquanto o povo argentino, por exemplo, já pode sintonizar gratuitamente a Telesur e
informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de
receber informações que revelam o andamento da integração da America Latina.
Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta
da agenda do debate político nacional e
receberá , certamente, um impulso
político e social, notável, pois o povo brasileiro, saberá , com nobreza e
humanismo, valorizar e apoiar o programa Mais Médicos. Alias, é exatamente isto o que tanto apavora a medicina
capitalista.
Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!
Segundo dados recentes do Ministério
do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros
estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e
outros projetos, muito lucrativos para as multinacionais. Mas, quando se trata
de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição
contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. Por
que é aceitável a importação de
telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas,
vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único
pais em condições objetivas de apresentar-se prontamente e de maneira
eficaz com profissionais experimentados.
Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota
idéia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina socialista de Cuba?
Quem
pagará a conta da demora?
A presidenta Dilma tem inteira razão em
convocar os Médicos Cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo,
amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um
sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas
que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. Aliás,
com a determinação da presidenta Dilma está absolutamente revelada a
importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para
que esta modalidade de integração nas esferas sociais, não avance também para outras áreas, como a educação,
por exemplo. Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”, que
Venezuela, Bolívia, Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios
Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores
cubanos. Muito em breve, será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão,
que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista, mas depois perdeu, na era neoliberal. Por quanto tempo o Brasil terá apenas
projetos pilotos, em apenas 3 cidades, com o método de alfabetização cubano,
que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais? Que espera a sexta economia do mundo em convocar ainda mais a cooperação cubana para
erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora?
Termino com a declaração da Dra
Milagro Cárdenas Lopes, cubana, negra,
61 anos “Somos médicos por vocação, não
nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou. Em seguida, dirigiu-se com seus
companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de
seu alojamento. Sinal de que a integração está escrevendo uma nova página na
história da América Latina.
Beto Almeida
Diretor da Telesur
25 de agosto de 2013