PRIMEIRO DE MAIO
UM DIA PARA SER LEMBRADO NA HISTÓRIA DA CNEC
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE.
Antônio J C da Cunha
Associado Representativo da CNEC/RJ
Em
homenagem ao dia do nascimento de FELIPE TIAGO GOMES, apresento-lhes um
pouco da História da Instituição por ele criada e que, hoje, em menores
números, continua prestando relevantes serviços, ao Brasil, na área da
educação, com mais de 150 unidades de ensino espalhadas pelo território
nacional.
FELIPE
TIAGO GOMES é um nome para ser lembrado na História da Educação
Brasileira ao se considerar que durante os 70 anos de existência da
CNEC, muitos, milhares homens e mulheres tiveram oportunidades na
educação graças ao movimento educacional criado por este cidadão nascido
no dia 1° de Maio de 1921, no Município de Picuí (PB).
A
CNEC conta ainda com aproximadamente 120.000 alunos distribuídos em 151
unidades educacionais, que atendem desde a educação infantil até o
nível superior. Destas, 18 são de Educação Universitária: 1 na Bahia – 1
no Espírito Santo – 1 em Mato Grosso – 3 em Minas Gerais – 1 no Paraná –
4 no Rio de Janeiro – 5 no Rio Grande do Sul – 2 em Santa Catarina e 1
em São Paulo.
História - A
inesquecível saga de Felipe Tiago Gomes inicia-se em 1º de maio de
1921. Nascido no Sítio Barra do Pedro, município de Picuí, (PB), viveu
sua infância enfrento muitas adversidades. Como o próprio Felipe me
contava, pois com ele trabalhei, a partir de 1960, sua meninice foi
semelhante à de milhares de outras crianças sertanejas: pés descalços e
picados por espinhos impiedosos, mãos calejadas pela enxada, incômodos
“beliscões” das juremas e da colheita do juá, pequeno fruto com grandes
caroços e a parte comestível mínima. E dele se serviam no dia a dia.
Era
o filho caçula de Elias Gomes Correia e Ana Maria Gomes. Nas horas
vagas recebia lições de sua irmã Francisca, que havia concluído o curso
primário na cidade. Depois, teve aulas na escola de Dona Nativa, pessoa
adorável que se dedicava ao ensino das crianças. Após ter frequentado a
escola pública de Picuí, de 1933 a 1935, Felipe Tiago Gomes foi
conduzido pelo Professor Pereira do Nascimento ao Colégio Pio XI,
localizado na cidade de Campina Grande, Paraíba. Lá terminou o ginásio
que, infelizmente, coincidiu com a morte de sua mãe..
Não
tendo mais condições financeiras para manter-se em Campina Grande,
Felipe viu-se obrigado a retornar a sua cidade natal, Picuí. Restava
agora voltar à lavoura, vivendo no tormento da vida do agricultor
sertanejo. Porém, Felipe Tiago Gomes obteve auxílio do Juiz de Direito,
José Saldanha, e do dentista Doutor Morais, que o hospedou em sua casa
no Recife.
Convidado
por um colega, Everardo Luna, Felipe foi morar na Casa do Estudante.
Passou a trabalhar como porteiro e logo em seguida conseguiu o posto de
bibliotecário. Do contato diário na biblioteca, ele pôde ter acesso a
diversas obras literárias. Dentre elas, O Drama da América Latina, do
escritor John Gunther, onde é retratada uma experiência de Haya de La
Torre para a alfabetização de índios no Peru. Essa obra o influenciou e o
despertou para a criação de uma instituição que visasse assegurar o
direito de estudar aos milhares de jovens pobres. E assim, em 29 de
julho de 1943, foi criada a Campanha do Ginasiano Pobre - CGP, com a
criação do Ginásio Castro Alves. Depois CNEG – Campanha Nacional de
Educandários Gratuitos que em 1968 passou para Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade - CNEC.
Mas a luta para vencer dificuldades continuou por muitos e muitos anos.
Para obter o reconhecimento oficial do Ginásio Castro Alves, em Recife.
Do dia livro História da CNEG, escrito por Felipe Tiago Gomes, em 1962.
Primeiros Exames Oficiais da Campanha - No
dia 10 de abril de 1946, depois de alguns esforços, os diretores da
CAMPANHA DO GINASIANO POBRE, iniciavam, no prédio do Colégio Oswaldo
Cruz, os exames de admissão ao primeiro ginásio gratuito a funcionar
como iniciativa totalmente particular no Brasil. Nessa mesma data, eu,
Caubi de Oliveira e Edgar Ataíde dávamos entrevista no “Diário de
Pernambuco” sobre as atividades do Movimento e seus projetos para o
futuro.
No ano de 1946,
há um fato interessante a se registrar: a CAMPANHA DO GINASIANO POBRE
passou a chamar-se CAMPANHA DOS GINÁSIOS POPULARES. Nesse ano também foi
realizada, com grande sucesso, a Terceira Semana de Cultura.
CAMPANHA DOS GINÁSIOS POPULARES – Inicialmente,
era o Movimento denominado de CAMPANHA DO GINÁSIO POBRE. Surgiram
várias sugestões para a mudança do nome: “Esse nome é deprimente!”
diziam uns. Resolvemos, então, muda-lo para CAMPANHA DOS GINÁSIOS
POPULARES. O Partido Comunista estava no apogeu: havia elegido uma
bancada respeitável de deputados federais e o seu líder conseguiu
tornar-se senador pelo antigo Distrito Federal. A CAMPANHA DOS GINÁSIOS
POPULARES parecia, na época, a alguns, que se tratava de uma obra
comunista. A palavra “popular” era propriedade do Partido Comunista. Os
Diretores da Campanha, por via das dúvidas, resolveram mudar o nome da
organização para CAMPANHA DOS EDUCANDÁRIOS GRATUITOS.
OS MILIONÁRIOS (Rubem Braga)- Não
conheço esse rapaz do Recife, chamado Felipe Tiago Gomes, que meteu na
cabeça a ideia de que é preciso democratizar o ensino no Brasil. E que
escolheu como tarefa sua e de seus companheiros fundar ginásios
gratuitos, e já pôs a funcionar cinco: no Amazonas, em Pernambuco,
Paraíba, Paraná e Estado do Rio.
Essa
“Campanha Nacional de Educandários Gratuitos” propõe-se a fundar, em
todo o País, 68 ginásios. Sua ambição inicial é proporcionar a um número
maior de pessoas os quatro primeiros anos do curso secundário; ainda
não pode pensar no que fazer quando chegar o momento de seus estudantes
se encontrarem na encruzilhada entre o clássico e o científico. Os
próximos Estados a serem beneficiados são o Espírito Santo e a Paraíba,
com dois ginásios cada um. Minha bela Cachoeiro de Itapemirim contará, o
mês que vem, com seu ginásio noturno, que virá abrir novas perspectivas
aos jovens trabalhadores beneficiados pela Campanha de educação
primária do Estado e do Município a que Professora Zilma Coelho Pinto,
fundando 25 cursos, deu impulso tão belo e generoso.
Há
mais camadas pobres de nossa população – e ainda outro dia citei um
exemplo disto – uma verdadeira sede de aprender. As razões principais
serão, certamente, de ordem econômica. São também elas as que merecem,
em primeiro lugar, atenção, em um País que está em fase de
desenvolvimento econômico em que precisa contar com um número cada vez
maior de trabalhadores de certo nível cultural.
Os
homens “práticos” ou “realistas”, que ainda nos pregam as vantagens do
analfabetismo popular são flores murchas do “espírito” de uma sociedade
que já não existe. Seus paradoxos fáceis ou cínicos – perdem qualquer
valor diante desse irresistível impulso das novas gerações para escalar
níveis melhores de vida cultural. Em alguns anos o Brasil já realizou
bons começos de uma grande obra de ensino profissional, principalmente
no campo da indústria e do comércio. Esse bando de padres que foi
invernar na Universidade Rural para aprender alguma coisa que possa
ensinar aos seus fieis da roça mostra como é sensível, sob pressão de
fatores econômicos e sociais, a necessidade de progresso educacional.
Duque de Caxias, RJ, 1° de Maio de 2014
Antônio Joaquim Coelho da Cunha
Associado Representativo da CNEC/RJ
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