CARTA AOS NETOS
(*) Rinaldo Barros
Escrevo
esta carta com esperança de ser lido novamente daqui a alguns anos, por vocês,
meus netos (Maria Clara, Pedro, Isabella, João e Lucas), os quais chegaram a
este Mundo agora recentemente; e pouco ainda sabem dos mistérios da vida neste
lindo planeta azul.
Todavia,
espero que aí por volta de 2030, a geração dos meus netos possa avaliar se,
enfim, triunfou a estupidez humana, ou se conseguimos, pelo menos, manter viva
a esperança. Prestem atenção!
Neste
início de Milênio, não estamos atravessando apenas mais um momento de
turbulência. Estamos dentro do olho do furacão.
A história contemporânea nos levou ao término da onda
industrial, à drástica diminuição do Estado, à universalização da sociedade da
informação (dominada pelo grande capital financeiro internacional), ao
crescimento extraordinário dos fundos de previdência e aos lucros astronômicos
das grandes instituições financeiras, fenômeno que fez explodir o estoque de
recursos financeiros disponíveis, dos quais uma boa parte tem se destinado a
perigosas especulações de curtíssimo prazo.
Falo do
“capital volátil”. Um dinheiro sem pátria, ganancioso, sem coração, que quer
ganhar muito e, se possível, muito rapidamente. Algumas fontes chegam a
estimá-lo em mais de 30 trilhões de dólares. Especulação financeira pura
e simples, que vai pra onde estiverem os juros estão altos. Com um poder
diabólico.
Nada
deste dinheiro é investido para melhorar a qualidade de vida, não há interesse
em acabar com a fome, nem preservar o meio ambiente, nem desenvolver qualquer
economia, além de ser incontrolável.
Além
disso, é preciso não esquecer a virulência da política externa da (por
enquanto) maior potência do planeta, agora estimulada pela “vitória” na guerra
contra um inimigo que não existia, nem tinha armas nucleares: o Iraque.
Para quem não sabe, Bin Laden, era da Arábia Saudita; não era iraquiano.
Para
manter os lucros do complexo industrial-militar, e para conquistar reservas
estratégicas de minérios, petróleo, entre outras; a guerra contra o Iraque bem
não acabou; e já estão preparando outras invasões.
As vendas
do complexo industrial-militar não podem parar. São muitas indústrias
multinacionais, faturando bilhões de dólares em aviões, helicópteros, veículos
blindados, mísseis, armamentos, bombas, minas, munições, uniformes, alimentos,
medicamentos, a lista é imensa.
Ah! O
terrorismo deve ser incluído como ingrediente desse molho. Semana passada, uma
nova série aparentemente coordenada de explosões acordou Bagdá e cercanias na
manhã do aniversário de dez anos da Guerra do Iraque. São mais de 2.000
mortos e feridos apenas em 2013, que começa a ser um dos anos mais violentos no
país desde a retirada das últimas tropas norte-americanas.
Na mesma
sequência de ações de guerra, vimos caças de Israel bombardearem alvos dentro
da Síria. Segundo o New York Times, o carregamento era de mísseis
terra-terra de última geração que vinham do Irã.
Será o
início do indesejado (?) triunfo da estupidez humana?
Relembro:
para depor Saddam Hussein, Bush mentiu e sacrificou, além das vidas de milhares
de iraquianos (mártires, na visão árabe); desrespeitou a ONU, a OTAN (aliança
militar ocidental), a coalizão antiterror; comprometeu a imagem dos EUA perante
o mundo; destruiu monumentos e milhares de relíquias do berço da civilização e
a própria noção de que a humanidade progride, ou deveria estar evoluindo.
Bush
inaugurou a barbárie contemporânea. Aparentemente, o mundo caminha,
perigosamente, sob uma estúpida hegemonia, no médio prazo, para a barbárie de
alta tecnologia.
Cá
no meu canto, ingenuamente, como queria Agostinho (354 a 430 d.C), eu persisto
com a Esperança, ao lado de suas duas filhas lindas: a Indignação e a Coragem
de continuar lutando por um mundo melhor.
Na
estação futuro, vocês, Maria Clara, Pedro, Isabella, João e Lucas, poderão
tirar a limpo se valeu a pena este avô haver sonhado com a Estrela da Manhã; ou
se a estupidez humana triunfou.
Saibam
que torço e vibro para que, com os pés bem firmes no chão, toda a geração dos
meus netos possa ter os olhos, o coração e a mente nas estrelas.
E
que possam encontrar motivos para continuar gostando da vida como ela é.
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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