segunda-feira, 25 de julho de 2011

Doutor Tomaz S. Gomes de Melo: poeta e bom para o povo.

O dia em que poeta viu a mendiga
Receber uma esmola de Tomaz Salustino.

Texto de Luiz Gonzaga Cortez

25/07/11
Ele foi um dos homens mais populares de Currais Novos. Alvo, estatura ,mediana, rico, senhor de terras e simpático – ele fazia tão de ser benquisto pelo povo pobre e reclamava dos que se acanhavam de falar com ele -  o doutor Tomaz Salustino Gomes de Melo foi um dos homens que mais se destacaram na família Gomes, um clã de fazendeiros e agricultores, que migrou da Paraíba para o Rio Grande do Norte. Os Gomes de Melo, Macedo e outras famílias da Paraíba, vieram de Picuí e do Brejo. Quase todo o Seridó e Oeste potiguar foram colonizados por famílias paraibanas e pernambucanas. No século XIX e princípios do Século XX, era comum os casamentos com os parentes. Por isso, em Currais Novos, ainda hoje sobrevivem casais formados dentro de uma só família; há primos casados com primas, sobrinhas, etc. Há casos de problemas de saúde por causa desses casamentos, mas não há nenhuma pesquisa a respeito. O dr. Tomaz é oriundo da família Gomes de Melo que, por sua vez, se amalgamou com as famílias Cortez, Pegado, Dantas, Galvão e outras. Depois dele, o o Gomes mais famoso, na atualidade, é o agrônomo e servidor da SUDENE aposentado, Geraldo Gomes de Oliveira, prefeito de Currais Novos, candidato à reeleição e com amplas chances de derrotar os seus adversários forasteiros.
Casado com  uma parente, dona Tereza Bezerra de Araújo Melo, filha do Coronel Zé Bezerra da Aba da Serra (avô materno de Tomaz Salustino), um latifundiário e chefe político conservador. Integrante de uma família conservadora, católica e de agricultores, na qual a opinião e a vontade do pai predominavam, Tomaz Salustino (1880-1963) na juventude, revelou seus pendores intelectuais na pequena comunidade de Currais Novos, onde a principal atividade econômica era a pecuária e a agricultura de subsistência.  Manoel Salustino Gomes de Melo Macedo, casado com Ananília Regina de Araújo Gomes de Melo, filha de Tomaz Araújo Pereira e de Rita Regina de Albuquerque Araújo Pereira, era dono de extensas terras, entre os municípios de Currais Novos e Lages, na região Central. “Era terra demais”, afirma José Saldanha de Menezes Sobrinho, poeta popular, natural de Santana do Matos, 83, amigo e ex-inquilino de Tomaz Salustino Gomes de Melo. Esse latifúndio foi repartido, vendido, tripartido ao longo dos anos. Hoje ainda restam terras, riachos, grutas e grotas, buracos e socavões, que, em virtude da decadência da indústria extrativa mineral, os herdeiros e sucessores pretendem transformar em pontos turísticos de Currais Novos. Torcemos para que as operadores de Natal, do Sul e do Sudeste se interessem pelos cascalhos, xiques-xiques, sodoros e macambiras.
Naquela época, o pai decidia o futuro dos filhos (as). Se o pai quisesse que o filho fosse agricultor, ele deixaria de estudar para trabalhar na roça. As filhas eram destinadas para serem esposas. Se formar? Nem pensar. Isso quase que acontecia com o jovem Tomaz. No entanto, foi formada uma comissão de três tios (José Gomes de Melo Jr, Benedito Gomes e outro não identificado) para conversar com o pai dele, Manuel Salustino Gomes de Melo Macedo, sobre o seu futuro. A conversa, depois das tratativas iniciais, foi mais ou menos assim: “Manoel, viemos aqui para pedir que você mande seu filho Tomaz se formar. A família não tem nenhum doutor e esse rapaz é muito inteligente, de muito futuro, e aqui não tem futuro pra ele. Mande esse menino pra Recife ser advogado, juiz de direito, porque aqui nunca saiu um juiz”. O porta-voz foi José Gomes de Melo, o “padrinho Zezinho”. O pai concordou com os conselhos dos irmãos e mandou Tomaz Salustino estudar na Faculdade de Direito de Recife, em 1906, quando já estava casado, com 26 anos de idade e 2 filhos. Segundo Cleando Cortez Gomes, residente em Fortaleza-Ce, filho de Manoel Genésio Cortez Gomes, primo de Tomaz, os mais velhos da família Cortez Gomes de Melo, de Currais Novos, conhecem essa história.
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais aos 30 anos de idade. Graças a Benedito Gomes de Melo, casado com Teodora F. de Araújo, filha de Cananéa e neta do governador Tomaz de Araújo Pereira, o terceiro desse nome, Manoel Salustino Gomes de Melo Macedo formou um doutor na família Gomes. Quem era Benedito? Benedito era um dos treze tios de Tomaz, isto é, um dos treze filhos de Úrsula de Macedo Gomes de Melo e José Gomes de Melo. Esse casal teve os seguintes filhos: Manuel Salustino (Salustino é derivado de Salústio, um político e historiador de Roma antiga), Benedito; José Gomes de Melo, casado com Maria Camila Cortez Gomes de Melo e com Ana Gomes Cortez (Segunda núpcias); André Gomes de Melo, casado com Rita Dantas Gomes de Melo; Guilhermina Regina de Araújo, casada com Francisco Vicente Dias de Araújo; Josefa Gomes de Oliveira, casada com Manoel Antonio Eloi de Oliveira (sem filhos); Maria Regina de Araújo, casada com Francisco Umbelino de Araújo; Úrsula Augusta de Araújo Dantas Cortez, casada com Manoel Pegado Dantas Cortez; Francisco Umbelino Gomes, casado com Felismina Maria de Macedo Gomes; Francisca Gomes Xavier Dantas, casada com Antonio Xavier Dantas; Miguel Salustiano Gomes de Melo, casado com Teresa Amélia de Jesus Gomes de Melo e Rita Clementina de Macedo Gomes de Melo, casada com Manoel Gomes de Melo. Aqui um parêntese: esse casal teve os filhos José, Veneranda, Antonio, Sofia, Mizael, Manoel, Julia, Ernestina, Francisco e Otília de Macedo Gomes de Melo. Veneranda era a mãe do poeta e escritor José Bezerra Gomes. Mizael, falecido em 1996, era o pai de Cleodon e Adailton, sócios da Livraria Potylivros, ex-Cortez&Moraes, fundada pelo irmão, José Xavier Cortez, ex-marinheiro e hoje empresário bem sucedido, e o meu (e deles) primo legítimo Braz. Ontem, 25.09.05, José Cortez contou pedaços de sua vida no Programa Memória Viva, da TV-Universitária, de Natal.
 O poeta José Saldanha disse que o dr. Tomaz era um homem culto e gostava de fazer poesias. “Eu morava em Cerro Corá, numa casa que foi de José Fidelis, pai de Pedro Fidelis, mas que o doutor Tomaz comprou e me alugou. Muitas vezes, ele ia cobrar os aluguéis em Cerro Corá e Lagoa Nova e, nessas ocasiões, ele mostrava as suas quadrinhas, trovas, que ele compunha. E me dizia: “olhe, eu tenho muitas quadrinhas em casa. Passe por lá pra gente ver”. Essas quadrinhas ele escrevia em cadernos, que devem estar em Currais Novos, pois nunca publicaram”.
Tomaz Salustino Gomes de Melo, aos 82 anos e meses, certa vez, viajou a Cerro Corá com Josué Pereira, um político e gerente de seus negócios, como motorista. “Eu morava na casa dele, no centro de Cerro Corá, quando ele chegou no carro dirigido por Josué Pereira. Aí apareceu uma mendiga, esfarrapada, alta, branquela, pedindo uma “esmolinha pelo amor de Deus”a doutor Tomaz. Ele deu uns 5 cruzeiros e a mendiga agradeceu assim: “Deus te dê  saúde e felicidade”. O doutor Tomaz disse: “Peça saúde e felicidade pra você que está nesse estado, pobre, pedindo esmolas e não para mim, que estou lhe dando dinheiro e estou com saúde”.  No outro dia, doutor Tomaz levou uma queda da cadeira, uma espreguiçadeira que se desmanchou e fez com que ele caísse no chão, provocando fraturas. Dessa queda, o doutor Tomaz não se recuperou e faleceu dias depois. Me lembro como se fosse hoje. Parece até uma fatalidade prevista”, relembra José Saldanha
Saldanha afirma que o dr. Tomaz gostava de passear pelas calçadas e quando notava que um popular desviava o caminho para não cumprimentá-lo, por vergonha ou acanhamento, ou por estar devendo alguma quantia, ele chamava a pessoa e dizia: “Porque você não falou comigo? Não tenha medo, não, eu sou igual a você”. Aí  a pessoa falava, dava bom dia e a vida continuava. “O cabra ia pedir dinheiro emprestado e ele dizia que não era agiota, mas que podia ajudar. Se a pessoa não pagasse no prazo, ele cobrava taxas de juros do comércio; se a pessoa não pagasse, ele não emprestava mais. Se deram calotes nele, foram poucos”, afirma José Saldanha, que nunca viu, nem sabe por ouvir dizer, que Tomaz Salustino jogasse, bebesse e fumasse.
Aqui pra nós, eu, particularmente, sei quem jogava, bebia, fumava e era perdidinho por mulher. Mas isso é outra história.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista.








Ato público ocorrido em 1951, em Currais Novos/RN. Da esquerda p/direita, Custódio Toscano, José Varela, governador do Estado (de óculos escuros), desembargador Tomaz Salustino Gomes de Melo, padre Valfredo Gurgel e o advogado Everton Dantas Cortês, primo do dr. Tomaz, um dos descendentes do "Barão de Araruna".
Natal, 25.08.11.

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