domingo, 24 de julho de 2011

Um escritor de Parelhas

Jorge de Senna, um escritor
potiguar desconhecido (III)

Texto e pesquisa de Luiz Gonzaga Cortez.


Jorge Rodrigues de Senna, o ilustre escritor e bom contador de histórias e “causos”, além de ficcionista e memorialista, não pára de escrever e prepara um novo livro para os próximos 12 meses, a ser lançado em Goiânia/GO ou em Parelhas e Natal. Não revela o título.  Antes do lançamento, virá ao Rio Grande do Norte para receber uma homenagem da Câmara Municipal de Parelhas. Após muitos anos sem contactos com os políticos potiguares, ele retornará para ser homenageado pelos vereadores de sua terra natal. E por lembrar dos políticos, um dia Sr. Jorge poderá ser motivo de estudos de pesquisadores que se interessarem pelo coronelismo do RN. È um assunto pouco estudado pelos nossos intelectuais, talvez porque seja considerado tema espinhoso, difícil e perigoso. E vou dar uma sugestão para o “gancho” , isto é, que os pesquisadores sociais leiam o  primeiro livro dele, “Depois do Expediente”, publicado em 1994. O nossos “coronéis” não eram somente patriarcas, empreendedores e desbravadores dos sertões, mas, também, patrocinavam muitas patifarias, arruaças, crimes eleitorais e contra a vida. E nos períodos eleitorais, vixe Maria, acontecia de tudo, meu irmão.
Para você, caro leitor, ter uma idéia do que acontecia nas campanhas dos anos 40/50/60, no território potiguar,  os majores e coronéis da baixa política mandavam e desmandavam na administração e na polícia. Vou transcrever um trecho sobre um fato ocorrido naqueles tempos, sem data e localidade, porque Jorge de Senna trata as pessoas por codinomes ou nomes parecidos com as verdadeiras identidades. Entendeu? Então, vamos lá. Na página  96 do citado livro, inicia a crônica “Nomeação por ato de bravura” , na qual ele conta parte da história de um biriteiro e arruaceiro que foi nomeado fiscal de tributos do Estado. Um patife que enganava até a mãe, nominado por “Benedito Guindaste”, pois era uma lapa de homem.
---- “Todo mundo sabe que ele entrou pro serviço de fiscalização por via da proteção que lhe deu o deputado Talarico Bezerra. Esse era um que vivia às turras, disputando voto no tapa, com o deputado Leite Filho. Ali em Mofumbal, quem não era eleitor de um , votava no outro e era sempre incitado a odiar os adversários. Foi por isto que num dia de comício do deputado Leite Filho, Benedito Guindaste ajuntou-se com Quincas das Onças e se danaram a beber até à hora de começarem os discursos. Tinham falado só dois oradores. Ainda faltavam bem uns dez. Tinha gente da Macambira, Zangareia, Onça Rajada,Bosteiro... de tudo quanto era lugar povoado do município. Pracinha principal dura de gente. Foi nessa hora que chegaram os dois, mal conseguindo equilibrar-se nas pernas. Num carrinho de mão conduziam a jaula com o casal de felinos. Foi Quinca que tinha pegado as duas em armadilha na Serrado Ermo, pra vendê-las ao Circo Temperani, como sempre fazia.Mas a necessidade de fazer mal aos outros, os adversários políticos, era maior do que a necessidade de ganhar dinheiro. Abriram a jaula e gritaram ambos: “Olha as gatas, negrada!....
Não ficou viv’alma na pracinha do coreto. Só se via gente correndo pra todo lado. Os feídeos esturrando, desesperados. Gente trombando  com gente. Onças passando no meio das pernas, tontas com a gritaria. Gente caindo e outros passando por cima. Foi um destempero dos diabos. Mas no fim, só escoriações leves. Ninguém machucado grave. Prejuízo mesmo, só levou o Hermano Espanhol. No outro dia, amanheceu só a ossada de um dos bezerros dele. Nunca mais Quinca viu suas onças. Nem ele nem ninguém. Mesmo assim permaneceu o apelido. Contavam que o deputado Bezerra precisou trocar a calça e a roupa de baixo, de tanto rir, quando lhe contaram o caso. Aí reuniu-se o Diretório Municipal do Partido. Foi lavrada a Ata, ingirgindo o aproveitamento  dos dois no serviço público e assim foi feito. Governo era pra isto, pra prestigiar quem, por qualquer meio, avacalhasse a Oposição. A façanha foi considerada ato de bravura”.  Quincas e Benedito Guindaste foram nomeados e ficaram hospedados no Hotel do Deputado Talarico, onde os garçons receberam ordens de servir cervejas aos dois, à vontade, durante uma semana, enquanto aguardavam o Diário Oficial do Estado com as nomeações.
Acredito que o episódio ocorreu antes da famigerada Chacina de Cachoeira do Sapo, onde várias pessoas foram assassinadas por questões eleitorais, a mando de um deputado estadual que nunca cumpriu a pena integralmente porque foi defendido por um bom advogado criminalista já falecido, ligado ao grupo político que “administrava” o Estado do Rio Grande do Norte.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

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